O CÓDIGO DIGITAL

Publicado originalmente em 29 jun 2013

“Reconheça quem você é e não lamente ser quem você não é”
Alan Katcher

O título acima, nos tempos atuais, pode sugerir uma leitura diferente da abordagem que pretendo trazer.
Código pode remeter ao famoso Código Da Vinci e Digital pode levar-nos a uma era que chegou e dominou as nossas comunicações de uma forma geral.
Na realidade, não é este o foco da minha abordagem.

Aurélio define também digital como “Dos ou pertencente ou relativo aos dados; impressão digital”.
É desse código que vou lhe convidar a refletir. O Código Digital.

A população mundial, conforme estudo, em 2000 era de 6,1bilhões de pessoas, em 2020 é prevista em 7,8 bilhões.
Pense bem, 6 ou 7 bilhões de pessoas e a sua, a minha digital são únicas.

Nascem pessoas todos os dias e nenhuma digital se reproduz igual.
Que código é esse?
O que ele quer nos dizer?
Se nenhuma digital é igual à outra, podemos inferir, claramente, que ninguém é igual a mim e ninguém é igual a você! Estou certo?

A reflexão e ilação que eu gostaria de trazer a partir de agora está no campo do comportamento e das relações humanas.
Costumo dizer que a vida pode ser comparada a uma grande fila humana.
Pense em uma fila de cinema, num dia de grande lotação.

Do ponto que você está, se não for o primeiro ou o último da fila, você encontrará muita gente à sua frente e muita gente atrás de você, não é verdade?
O ponto da sua evolução pessoal, espiritual e profissional encontra-se também sob uma grande “fila”.
É sabido que um dos grandes males das emoções e da comunicação humana é a comparação.

Se eu me comparar com o melhor de cada pessoa que eu conheço eu aciono uma fórmula infalível para entrar em baixa auto-estima.
O Psicólogo Flávio Gicovate diz que “a máscara do outro é sempre mais poderosa do que a nossa”.
Por outro lado, se eu me comparo com o pior de cada pessoa que eu conheço, ao invés de aumentar a minha auto-estima eu posso entrar em prepotência.
Comparar-se é um crime com a sua alma e com as suas digitais!

Comparar é completamente diferente de se inspirar.
Você pode ajudar o outro a se inspirar em você e você pode se inspirar no outro.
A cada dia eu manifesto um comando interno, quase que um mantra, algo que me diz assim:
“Você não tem que ser melhor do que ninguém. Você tem que ser melhor do que você!”.

Cada um só consegue colocar no Universo as suas próprias digitais, o quão diferente ele pode ser.
Para fugir das toxinas da comparação, ancorar no porto da singularidade-plural que é a existência humana, com toda a sua interdependência, há que se conhecer e reconhecer como uma digital única.
O que eu vejo no mundo e no outro o faço a partir de uma visão interna.

Só posso mudar o que está lá fora, mudando o que está aqui dentro.
Esse é o Código e aqui estão as minhas impressões digitais…

Antonio Amorim
Consultor Organizacional www.antonioamorim.com.br

Felicidade, Razão e Emoção em Sintonia

Publicado originalmente em 29 jun 2013

Felicidade é comer jabuticaba. Como eu concluí isto? Há exatamente 30 anos, eu estava de férias com a minha família em um sítio; não só com filhos, mas com meus irmãos, cunhados e sobrinhos. Era um clima alegre, gostoso, claro; fazia parte do clima de alegria um bom jogo de futebol.

No meio do jogo, alguém chutou uma bola longe. Meu filho mais velho, na época com quatro anos, saiu correndo. Ele era o menorzinho e, por isso, o gandula. Ele correu pegou a bola botou em baixo do braço, e voltou para o campo. De repente, passou perto de um pé de jabuticaba, coisa que ele nunca tinha visto. Parou, deu uma olhada. Pegou uma, comeu. Pegou a segunda, comeu. Largou a bola, pegou a terceira e ficou comendo jabuticaba.

O que me impressionou não foi ele ter feito isto, que foi muito natural. O que me impressionou foi que todas as pessoas que estavam esperando a bola para poder continuar o jogo, ao invés de começar a gritar com ele, ficar amparadas, olhando. Ele estava inteiramente concentrado no que fazia. A sua cabeça, seu raciocínio e as suas emoções estavam inteiros ali, no que ele estava fazendo. Isto para mim é felicidade.
Se eu consigo casar o meu raciocínio, a minha emoção em qualquer atividade que me é prazerosa, eu estou feliz. É assim também no trabalho.


Estar com a cabeça volta da para a execução da tarefa não é muito complicado. Afinal, somos educados para isso desde o pré-primário. O mais difícil é o que diz respeito ao emocional. Neste campo, não só não somos educados, como, ao contrário, somos deseducados.

Todo impulso é bom. Seu resultado pode ser bom ou mau. Não é possível pensar que exista um impulso que seja ruim para o animal que o sinta. E sua descarga será sempre prazerosa. Esta descarga, no entanto, pode ser destrutiva para os outros. Um verdadeiro processo educacional deveria nos levar a controlar os impulsos, levando em consideração seu resultado. Não é assim que aprendemos. Nos é ensinado que há dois tipos de impulsos: os bons, que devemos exercer e desenvolver, e os maus, que não deveriam existir. Tal censura atinge níveis conscientes e inconscientes. Decretos secretos que me proíbem de sentir, não só de atuar, em função de tais impulsos. Como eles são normais, continuam a existir. Eu continuo a sentílos e a me culpar por ser normal; passo a reprimílos.
Quando necessito utilizá-los no papel profissional, não consigo acessá-los. Estão reprimidos. Vivo como se eles não existissem em mim.

Posso construir ou destruir com a agressividade. O mesmo se dá em relação à afetividade. Aprendo, no entanto, que amar é bom, ser agressivo é mau. Quando no papel profissional preciso ser assertivo, competitivo, colocar limites, ser curioso, criativo. Faltame o combustível dessas atuações, a agressividade, que me foi ensina da como sendo um impulso mau.
Requalificar tais impulsos, rever a qualidade que aprendi que eles tinham, é fundamental para o bom exercício de meus papéis familiar, social ou profissional. É fundamental para que eu possa ser feliz.

É fundamental para a empresa que essa energia preencha meu papel. Só assim serei realmente produtivo.
Sempre me chamou à atenção a diferença profunda que existe entre emprego e profiss. Emprego é um lugar chato aonde eu vou e trabalho, para ser remunerado e viver fora dali. Profissão é um espaço onde eu vivo e sou remunerado para continuar vivendo em outros papéis. Se eu consigo encontrar um espaço onde eu faço algo que me é prazeroso e onde tanto a minha cabeça como as minhas emoções estão inteiramente naquilo, eu estou feliz nesse grande período de vida que é o espaço profissional.

Se eu conseguir fazer isso na minha vida familiar, a cabeça e a emoção ali, eu estou feliz na quase totalidade da minha vida.
Ninguém é feliz, a gente está feliz. Por isso, felicidade é poder comer jabuticaba. Também no papel profissional.

Paulo Gaudêncio, psiquiatra e consultor de empresa
www.blogdogaudencio.com.br

Eu e a Cultura da Empresa

Publicado originalmente em 29 jun 2013

Cultura organizacional é o modo de ser e de atuar de uma comunidade. É, portanto, uma leitura do comportamento coletivo.

Quando se fala em mudar Cultura Organizacional, todo o esforço é para que esse comportamento coletivo seja revisto, demonstrando um novo jeito de ser e de atuar da Organização. Para isso, se investe na definição do novo rumo e na energia das pessoas para desenvolverem novas competências e conquistarem a Cultura Desejada.
Nesse estágio, está lançado um processo de transição cultural, que trabalha fortemente a dinâmica coletiva do grupo e a interdependência de pessoas e áreas.
Essa dinâmica exige, de cada um dos integrantes da comunidade, um esforço pessoal. O conjunto é maior do que a pessoa, mas não independe dela. Em um processo de mudança, é preciso falar a cada mente e a cada coração. Todos serão importantes.

Portanto, Eu – ante uma perspectiva de mudança do contexto do qual faço parte – preciso entender com clareza a realidade atual e desejada, compará-la com minhas expectativas e fazer uma opção. Se meus desejos e valores pessoais estão em linha com a proposta organizacional, ótimo! O esforço será muito mais suave, qualquer que seja o desafio. Caso contrário é preciso ponderar se vale a pena interferir no rumo escolhido mostrando que há outras formas de mudança mais efetivas, ou se é melhor escolher o meu caminho pessoal, que passará, quem sabe, pela busca de novas oportunidades de trabalho de outros ambientes, novas perspectivas. De qualquer forma, ante processos de transição cultural, não posso me omitir. Preciso investir no entendimento da demanda e, principalmente, no entendimento dos meus valores, desejos, expectativas. Assim, farei a escolha mais madura e mais contributiva.

Em movimentos de mudança, é preciso também que eu fique o mais atento possível à minha motivação, em todas as fases do processo. Especialmente porque vou ser chamado a rever posturas e aprender novas habilidades, é preciso que eu garanta uma energia pessoal elevada para esse investimento adicional.

Eu e a Cultura da Empresa 2

Portanto, eu preciso conhecer muito bem o que me faz motivado e o que desperdiça minha energia, todos os dias da jornada. É preciso entender onde e como posso buscar combustível para sustentar minha motivação apesar das dificuldades e dos desafios, porque essa responsabilidade é indelegável. A Organização tem o papel de criar ambientes motivadores e meu líder, em especial, precisa entender o que me motiva e contribuir no cotidiano do trabalho. No entanto, se falharem esses agentes externos, é a mim que cabe a busca do que me faz motivado. Preciso garantir hábitos diários e relações com o mundo que favoreçam esses alimentos essenciais à minha energia, ao meu entusiasmo.

Segundo McClelland – pesquisador de Harward e estudioso de Motivação – o ser humano pode se diferenciar pelo Motivo que mais o caracteriza: necessidade de desafio permanente (gosto por superação), necessidade de laços de afiliação (ser apoiado, ser aceito) ou necessidade de influência (ser destacado, exercer poder). São necessidades humanas, mas em doses específicas em cada pessoa e – curiosamente – sustentadas na mesma proporção, ao longo da vida.

Concluindo, em processos de mudança cultural, a Organização precisa explicitar claramente o Rumo e o Ritmo do processo pretendido, e também garantir ambientes onde estejam presentes espaços de autonomia (para motivar pessoas essencialmente necessitadas pelo desafio), apoio às pessoas (para motivar aquelas essencialmente motivadas por acolhimento, afiliação) e possibilidade de exercer influência sobre outros (para motivar aquelas que necessitam de destaque, oportunidade de mobilizar outros etc.).

Paralelamente – e não menos importante – as pessoas precisam ampliar seu autoconhecimento para poder realizar um trabalho maduro e produtivo pensando a Organização e, ao mesmo tempo, atuar com sabedoria para garantir alimentos adequados ao que interessa à sua motivação, no trabalho e na vida. O conceito de Motivação coincide com o conceito de Felicidade.

Portanto, vale a pena o investimento!

Beth Zorzi

Criando pontes.

Publicado originalmente em 29 jun 2013

0 PASSOS DO AQUÁRIO(emprego) PARA O OCEANO(trabalho)
“Você pulou do aquário ou arrebentou o aquário?”, me perguntou certa vez um Diretor de RH de grande empresa.
“Quer dizer que existe vida fora das empresas?”, ouvi de outro, este último ligado a uma instituição financeira.

As reflexões que fizemos levaram-me a pensar mais sobre essa questão que é bem pertinente, não só à minha geração, bem como daqueles que estão chegando ao mercado de trabalho.
Costumo dizer em conversas e palestras, que somos uma “geração meio”, ou seja, já não estamos na geração dos nossos pais (aquela em que o sonho de consumo era um emprego no Banco do Brasil ou Petrobrás, ou mesmo um emprego público e aposentadoria garantida), visualizamos um futuro com o olhar dos nossos filhos(a geração do trabalho e não mais do emprego) e ficamos dessa forma: a cabeça no passado , o olhar no futuro e o presente em constante mutação…

Certa vez, entrei em um banco e vi um folder, desses para divulgação de produtos, com uma imagem que me chamou a atenção(recortei e coloquei numa moldura).
Nela, um pequeno peixe, dentro de um aquário, avistava com olhar fixo, através da janela, um imenso oceano…
Em outra oportunidade, recebi um amigo, Gerente de Banco, no meu escritório e ele questionava uma decisão que pensava em tomar: mostrei-lhe o quadro e pedi que refletisse em cima da imagem.
O que desejava naquele momento? Segurança e conforto ou risco e liberdade?
E percebo em visitas a empresas e conversas com os profissionais, que essa é uma questão muito presente na vida das pessoas…

Normalmente quem está dentro do aquário questiona-o e visualiza o oceano.
Quem está do lado de fora por vezes angustia-se com a insegurança e pensa no aquário como solução…
E então? O aquário com a sua segurança (?) e conforto ou o oceano com tamanho risco e tamanha liberdade?
A felicidade não está nesta ou naquela opção, depende da natureza de cada um, mas para dar vazão à reflexão acima, considerando que a alternativa escolhida seja deixar o aquário e navegar nas ondas do oceano, vamos seguir com a provocação.

Qual seria a saída para essa mudança? Para encarar esse desafio e não ficar esperando que a decisão passe por um enxugamento do quadro da empresa? – nesse caso a responsabilidade “é do outro”?.

A imagem da construção de uma ponte parece-me a ideal, associada a alguns passos que chamarei de os “10 passos do Aquário para o Oceano”.

1- “Conhece-te a ti mesmo” – isso é antigo é socrático, mas é o primeiro passo para gerar a mudança – ampliar a consciência sobre si mesmo. Não dá para acertar o seu relógio pelo do outro… Ainda na imagem do peixe e do aquário, é preciso saber se a sua natureza é de “água doce ou salgada”, rio e mar são diferentes…

2- Comunique-se – é importante ter humildade e conversar com outros que já estão navegando nesse oceano há mais tempo. Saber das dores e delícias é poder conectar-se com esse novo mundo, sabendo, entretanto, que cada experiência é única…

3- Cuidado com o emocional – Acompanhei decisões de mudanças, movidas pelo emocional(“estou de saco cheio”, “não agüento mais isso”), mobilizarem decisões que muito freqüentemente levaram ao arrependimento, justamente pela falta de planejamento da decisão. No caso do primeiro questionamento, o peixe literalmente estaria “pulando do aquário”, já que num movimento brusco(emocional) decidiu sair, mas…

4- Não espere ser “cozido na panela” – O exemplo do sapo cabe bem aqui. Se um sapo for jogado numa panela fervendo ele vai pular. Se for colocado na panela com água fria e a água for esquentando aos poucos, ele vai ser cozido sem perceber…E assim acontece nas empresas… Será que isso vai atingir apenas o outro? Se eu “ficar quieto” a onda passará? Passará ou me levará junto?

5- Visualize o ponto futuro e ancore no propósito – No trabalho de Planejamento Estratégico a primeira etapa é a Visão. De visionário, mesmo. Estou aqui e quero estar ali- o que preciso fazer hoje, para trazer o amanhã para o presente? .
Passa pelo sonho, é proativo e não reativo. Ancore-se no propósito (a missão), o sentido de serviço. É ele quem vai lhe segurar em momentos de tormentas e de ressaca da maré…

6- Construa a ponte – É preciso negociar… Muitas vezes, com muita gente… Primeiro com você(saber do que vai precisar abrir mão, do que vai precisar abandonar – geralmente segurança , status, conforto- será que você está disposto?). Depois com os outros que estão com você(o outro só incomoda quando ainda não estamos resolvidos…). Nesse caso o nosso herói, o peixe, arrebentou o aquário, considerando que passou pelas reflexões acima e negociou(sobretudo) internamente…

7- Busque parceiros – Ninguém consegue realizar um sonho sozinho. A interdependência é uma realidade humana (“toda pessoa sempre é a marca das lições diárias de outras tantas pessoas”). O importante é que essa busca e identificação dos parceiros esteja em acordo com o item número 1 desta lista -valores e crenças precisam estar alinhados.

8- Trabalhe a auto-estima e seja paciente – Quando as coisas não estiverem acontecendo como você desejava, vá fazer outra coisa (almoçar com um amigo, ir ao cinema etc), mas fique atento à ansiedade! Ninguém vai querer contratar um profissional ansioso por fechar um negócio…

9- Deixe uma reserva($) – Pode ser que o mar não esteja para peixe… Em muitos momentos ela vai ser fundamental para que você não volte correndo para o aquário… Um planejamento financeiro será fundamental!

10- Em branco – O décimo passo vai ficar em branco. Ele é o novo, aquilo que surpreende, o inusitado. É estar aberto a novas possibilidades…Como já disse o genial Raul Seixas “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, a ter aquela velha opinião formada sobre tudo”… Estamos em permanente transformação(a cada dia), a cada dia novas idéias, novos pensamentos, sentimentos, novas pessoas que surgem…

Ficar aberto à magia da vida é aprender com o aquário e o oceano de oportunidades…
Antonio Luiz Amorim
Consultor Organizacional
Autor de Construindo Pontes: 10 passos do aquário(emprego) para o oceano(trabalho) Ed. Qualitymark
www.antonioamorim.com.br

Anjo da morte.

Publicado originalmente em 29 jun 2013

Trecho extraído do Livro “Perdas & Ganhos”, de Lya Luft, – Record

O homem estava pegando as chaves do carro (a mulher já tinha saído para levar as crianças à
escola), quando tocaram a campainha!
Vagamente irritado, pois já se atrasara bastante, ele abre a porta:
-Sim?
O rapaz, alto e estranho, andrógino, feio e belo, alto e baixo, negro e louro, faz um
sinalzinho dobrando o indicador:
-Vim buscar você.

Não era preciso explicar, o homem entendeu na hora: o Anjo da Morte estava ali, e não
havia como escapar. Mas, acostumado a negociações, mesmo perturbado ele rapidamente pensou
que era cedo, cedo demais, e tentou argumentar:
-Mas, como, o quê? Agora, assim sem aviso, sem nada? Nem um prazo decente?
O Anjo sorri, um sorriso bondoso e perverso, suspira e diz:
-Mas ninguém tem a originalidade de me receber com simpatia neste mundo, ninguém
nunca esta preparado? Está certo que você só tem 40 anos, mas mesmo os de 80 se recusam….

O homem agarrou mais firme a chave do carro, que afinal encontrara no bolso do paletó, e
insistiu:
-Vem cá, me dá uma chance.
O Anjo teve pena, aquele grandalhão estava realmente apavorado. Ah, os humanos…Então
teve um acesso de bondade e concedeu:
-Tudo bem. Eu te dou uma chance, se você me der três boas razões para não vir comigo
desta vez.
(Passava um brilho malicioso nos olhos azuis e negros daquele anjo?).
O homem aprumou-se, claro, ele sabia que ia dar certo, sempre fora bom negociador. Mas
quando abria a boca para começar sua ladainha de razões, muito mais do que três, ah sim, o Anjo
ergueu u, dedo imperioso:
-Espera aí. Três boas razões, mas…mas não vale dizer que seus negócios precisam ser
organizados, sua família não está garantida, sua mulher nem sabe assinar um cheque, seus filhos
nada sabem da realidade. O que interessa é você, você mesmo. Por que valeria a pena ainda te deixar
por aqui algum tempo?

Contaram-me esta fábula, que já narrei em outro livro, e nele quem abre a porta era uma
mulher. A objeção que o Anjo lhe fazia antes de ela começar a recitar seus motivos era:
“-Não vale dizer que é porque marido e filhos precisam de você…”

Essa história fala do quanto valemos para nós mesmos, do que realmente sentimos e
pensamos sobre nós.