Coaching ou Psicoterapia: do que seu cliente precisa?

Será que todos que te procuram tem clareza do que precisam?

Você acredita que pode atender e apoiar todos aqueles que chegam até você?

Você tende a “encaixar” as demandas que recebe na sua prática profissional?

Intrigada e curiosa com estas questões decidi pesquisar e analisar o que acontece quando nos deparamos com estes dilemas.

Te convido a ler este artigo e refletir seriamente sobre as questões apresentadas e sobre como você se coloca frente a elas: Coaching ou Psicoterapia?

Seja honesto com você mesmo!

Como fazer uma indicação adequada?

Como tomar uma decisão que possa apoiar o autoconhecimento da melhor forma?

Quem está em foco, seu cliente ou você?

Sei que estas são questões que podem incomodar muitos de nós, profissionais de desenvolvimento humano. Alguns porque acreditam já possuir total domínio ético sobre seu trabalho, e outros por acharem tais questionamentos irrelevantes. Entretanto, posso garantir que minhas idas e vindas conversando com colegas e clientes, revelaram que tanto coach, quanto coachee podem se beneficiar deste processo reflexivo, pois ambos são Humanos.

O que quero dizer é que tanto um quanto o outro podem se confundir ao fazer suas ponderações, afinal tendemos a analisar os fatos e fazer nossas escolhas a partir de nossas experiências e crenças.

Enquanto profissionais precisamos dar o máximo de informações para nossos clientes e não podemos nos deixar levar pelo simples desejo de ajudar ou de querer fazer o trabalho.

Anos atrás, um texto muito interessante me foi apresentado, chama-se “A Gula Terapeutica” ( leia aqui no blog), onde Frank Furedi, professor de sociologia na Universidade de Kent, no Reino Unido, discutia os modismos e a possível banalização das ciências do desenvolvimento humano em função da avidez pela excelência do ser e exigências sociomercadologicas.

Passada mais de uma década, me parece que o cenário não está muito diferente, afinal a cada dia encontro mais e mais pessoas querendo aprender a lidar melhor com seus altos níveis de exigência – ser um excelente profissional, mãe, pai, filho, amante, professor, etc..

Isso pode nos levar a uma certa “Gula de Coaching”? Será que todos que nos procuram demandam coaching?

No final dos anos 1990, Furedi falava na Cultura da Terapia, como algo que estava sendo cada vez mais estimulado pelos meios de comunicação de massa e que rotulava as necessidades cotidianas dos indivíduos que precisavam lidar com um novo jeito de ser e fazer as coisas (estressado, ansioso, fóbico, traumatizado, etc.). Isso fazia com que a psicoterapia fosse percebida como uma espécie de “tábua de salvação”.

Hoje, será que já podemos falar de uma Cultura de Coaching? No Brasil creio que ainda não, pois sua maior difusão ainda está no ambiente corporativo. Contudo, quando viermos a ter uma Cultura de Coaching, pois acredito nisso e em seus benefícios, poderemos aborda-la de uma forma muito positiva. O estimulo ao coaching vem crescendo e para que possamos fazer um trabalho impecável sem nos deixar corromper pelo ‘pecado da gula’, basta agirmos de forma madura e ética. O coaching não é a “moderna tábua de salvação”, é sim, mais uma das formas que existem para garantir o desenvolvimento continuo, porém com foco em resultados específicos. Trata-se de um processo que possibilita às pessoas se tornarem cada vez melhores e mais felizes.

O fato é que existem tantas abordagens e modalidades que se propõem a favorecer o desenvolvimento humano que, não é raro me perguntarem: qual é o processo de desenvolvimento/ autoconhecimento que melhor se aplica à mim? Ou, ao meu cliente? Devo fazer psicoterapia ou coaching? Qual é a diferença entre eles?

Acredito que exista uma diferença importante e que distancia em muito ambos processos, afinal o coaching se propõem ao apoio com foco no gerenciamento do centro de forças de cada individuo. Ele não se propõem a encontrar o que está faltando, mas sim a potencializar o que já existe dentro de cada um, como uma pedra preciosa que sai de seu estado bruto e ganha ainda mais valor ao ser lapidada.

Como psicóloga e coach me sinto à vontade para dizer que ambas as práticas se destinam ao crescimento e valorização do Ser, portanto não existe uma melhor ou pior que a outra (da mesma forma quando comparamos coaching a outros processos como couseling, mentoring, treinamento, consultoria ou outros). Existe sim uma que se adequada melhor ao momento e situação requerida pelo cliente. Desta forma, torna-se fundamental compreender o que faz com que as pessoas busquem o apoio de um profissional especializado e agir com ética para fazer a indicação mais apropriada.

Em geral, a principal razão que leva uma pessoa para a psicoterapia é a necessidade de livrar-se de um desconforto ou sofrimento. O que leva ao coaching é o desejo e a necessidade de avançar rumo a um alvo, a caminho das metas desejadas.

Os psicólogos são procurados por pessoas que estão passando por tormentos psíquicos, mas também podem ser abordados com o objetivo de produzir maior autoconhecimento olhando para suas vidas de maneira mais densa. Os coaches são procurados por pessoas que desejam romper limites, mudar sua direção na vida, atingir e manter alto nível de produtividade humana (performance + prazer).

Apesar de compartilharem aspectos comuns, os processos psicoterapêuticos e de coaching são bem diferentes. A psicoterapia trabalha com foco no passado e privilegia as causas de suas questões, enquanto o coaching mantém atenção no futuro e na transformação da ação, levando ao alcance dos resultados desejados.

O coaching concentra-se na definição clara de objetivos, na criação de resultados e na gestão de mudanças pessoais. Ele apoia o crescimento pessoal e profissional baseado na aquisição de novos hábitos de comportamento.

Em certa ocasião, num seminário, depois de eu ter explicado as diferenças acima mencionadas, alguém me trouxe a seguinte questão: ainda estou confuso, pois se o cliente diz querer compreender seu passado e também querer construir um plano para o futuro, o que devo fazer?

Fiquei pensando em como responder a isso e, intuitivamente disse: “peça ao seu cliente para que ele fale sobre seus objetivos com o trabalho, ajude-o a clarificar esses objetivos, deixe que ele confie em você para que possa dizer qualquer coisa que queira, peça que ele te dê o máximo de inputs possíveis sobre o que o deixará feliz e satisfeito quando o trabalho tiver terminado, estimule-o a falar muito sobre seus desejos, ansiedades e eventuais conflitos internos. Feito isso, veja se sua pratica atenderá completamente as expectativas do seu cliente e lhe dê sua melhor resposta.” Ao terminar, perguntei a meu ouvinte, será que fui suficientemente clara? e ele responde: sim, pois você acabou de colocar os princípios do coaching a favor do cliente, estou muito satisfeito.

Foi com esta experiência que pude concluir algo simples e ao mesmo tempo profundo, profissionais sérios, maduros e responsáveis são capazes de orientar bem àqueles que o procuram, pois através de impecável escuta ativa, do conhecimento sobre a essência das diferentes práticas de desenvolvimento humano/ autoconhecimento e de um comportamento plenamente generoso, pensará, prioritariamente, no bem-estar do individuo a sua frente.

Dizendo assim pode parecer simples demais, por isso a importância de conhecer as praticas existentes e clarificar a necessidade do cliente. Cada um desses processos exigem qualificações específicas e, sem elas, nem mesmo se pode começar a ouvir alguém que procura ajuda.

Os processos psicoterapêuticos só podem ser conduzidos por psicólogos formados e aptos a isso. Diverso a isso, coaching só pode ser conduzido por um profissional que tenha formação específica e reconhecida na matéria (coaching) e, preferencialmente, com experiência pratica comprovada durante o curso. Mas um coach pode ser oriundo de diferentes formações acadêmica (administração, economia, medicina, filosofia, engenharia, contabilidade, etc., etc.).

O coach é um profissional interessado em pessoas, com habilidades especificas que, através de metodologia aplicada é capaz de ajudar seus clientes a alcançarem seus objetivos – seu pódio particular.

Acredito que todas as pessoas deveriam olhar profundamente para si e suas necessidades. Existem diferentes caminhos para a constante evolução, o importante é escolher aquele que traga benefícios mais amplos e, como profissionais temos o dever de ajudar nessa escolha oferecendo o máximo de informações.

Seja qual for o método ou abordagem escolhida, para dar o primeiro passo é necessário ter disposição e vontade para investir em si mesmo.

Quando alguém apresenta uma queixa com desejo de “cura”(quadros de ansiedade, fobia, depressão, resolução de problemas emocionais, envolvimento com drogas, etc.) a indicação clara será a psicoterapia, mas quando a questão é o autoconhecimento a analise precisa ser mais criteriosa.

Precisamos educar a população para o coaching. Muita gente ainda não conhece esse trabalho. Por isso, existe muita confusão a cerca do que é o coaching e a que ele se propõem. Além disso, em função de tantas dúvidas as pessoas ficam indecisas sobre iniciar Coaching ou Psicoterapia.

Outro ponto importante é que essas praticas não são excludentes, ao contrário, é comum encontrarmos trabalhos complementares acontecendo, ou seja, coaching e psicoterapia concomitantes com focos diferentes. Por exemplo, se o cliente revelar um estado emocional comprometido ou desequilibrado, a associação das abordagens é indicada. IMPORTANTE: elas não devem, jamais, ser realizadas pelo mesmo profissional, inclusive por razões éticas.

Devemos deixar evidente àqueles que nos procuram que para o processo de coaching deve-se qualificar um objetivo, uma meta para que ele seja iniciado. Por outro lado, a psicoterapia debruça seu olhar no funcionamento, história, relações existentes e o ambiente que cerca a pessoa para trabalhar sua complexidade.

Uma outra diferença diz respeito a questão do tempo investido. No coaching, em geral, investe-se de seis a oito meses de trabalho com periodicidade quinzenal. Já a psicoterapia trabalha com a indeterminação do tempo, pois não há uma meta preestabelecida a ser alcançada.

Vale lembrar que ambos processos requisitam a participação ativa do cliente, entretanto, os processos psicoterapêuticos são mais condescendentes com o nível de entrega dos clientes, pois as questões latentes são consideradas. No coaching, por sua vez, o nível de comprometimento precisa ser de 100%, pois a eficiência do trabalho está diretamente relacionada a conquista de resultados como consequência da ampliação da consciência e treino de novos padrões de comportamento.

Para determinar se seu cliente poderá tirar proveito do coaching, lembre sempre, peça que ele elenque o que espera alcançar caso passe pelo processo. Quando a pessoa sabe o que quer e precisa o trabalho produz resultados muito uteis. Uma vez o coaching estabelece uma relação de parceria, pergunte se seu cliente considera valioso conversar com outros profissionais e conhecer outros pontos de vista sobre a questão apresentada. Questione se ele está disposto a dedicar tempo e energia para fazer mudanças concretas em sua vida e, se a resposta for sim, o coaching pode ser uma maneira muito benéfica para o aprimoramento.

Carlla D’ Zanna (http://www.transformacaoconsultoria.com.br/perfil-da-coach.html)

Publicado por

Carlla Zanna

Psicóloga especializada em Psicologia Organizacional, pós-graduada em Desenvolvimento Humano e MBA em Recursos Humanos. Possui formação em consultoria com base na antoposofia. É certificada nas metodologias internacionais “The Human Element®” e “LIFO®” que visam o desenvolvimento humano com foco em confiança, abertura e produtividade. Habilitada nas ferramentas de assessment Birkman e MBTI 1 e 2. Trabalhou por mais de 10 anos como executiva na área de RH e Marketing de Relacionamento, gerenciando KPIs, coordenando atividades de gestão de clima e programas de performance, além de oferecer apoio estratégico para conselhos de gestão, áreas de negócio, pares e equipes com foco no alcance de metas e consolidação da cultura organizacional. Professional Certified Coach – PCC pela International Coach Federation – ICF, atua como coach de liderança e vida desde 2002, com foco em produtividade humana e alta performance. Sua formação em coaching inclui The Inner Game, Transpersonal Coaching, Neurocoaching, Presence Coaching e Team Coaching, além de vários outros cursos e conferencias que já participou. Possui cerca de 4.000 horas de experiência em coaching individual, grupos e times. Foi Diretora de Desenvolvimento da ICF Capítulo Regional SP (2010/2017) e Diretora de Responsabilidade Social da ICF Brasil (2017/2018) respondendo também como Project Manager da iniciativa Ignite (projeto global da ICF Foundation atrelado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU). Em 2009 fundou a Transformação Consultoria em Desenvolvimento Humano, pois é apaixonada por pessoas e suas múltiplas possibiidades. Oferece palestras, workshops, facilitação em processos de desenvolvimento humano, coaching e mentoring sempre com o objetivo de estimular o protagonismo e a humanização das relações, tendo como principais eixos a produtividade humana (escolhas conscientes como base para a felicidade) e evolução cultural. Carlla gosta de se auto intitular “humanóloga”, termo que vem do conceito de Humanologia criado pelo Yogi Bhajan. O termo tem como ideias centrais a dignidade, nobreza, gentileza e a comunicação fluida e respeitosa. Para ela ser “humanóloga” significa estar à serviço olhando para o outro de forma profunda.

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