Onde está o HUMANO do SER?

“TODA VIDA IMPORTA”. Essa afirmação para mim é obvia, mas infelizmente parece que nem todas as pessoas pensam dessa forma.

Eu não aceito a normalização do racismo ou qualquer outro tipo de preconceito e intolerância porque não é normal! 

Aproveito para expressar aqui a minha profunda tristeza e solidariedade para com as inúmeras vítimas da intolerância, em especial da intolerância racial!

Ainda que eu ocupe um lugar de fala privilegiado em relação a esse tema (branca de ascendência ítalo-austríaca), sinto uma dor enorme ao ver tamanho desrespeito pelo HUMANO DO SER. Repudio qualquer atitude de discriminação e ódio, fico chocada por saber que ainda existem pessoas que excluem, desqualificam e inferiorizam outras pessoas. Muito pior quando esse comportamento é motivado apenas porque a cor da pele do outro é diferente. 

Fico me perguntando… o que será que essas pessoas pensam e sentem? Sobre a forma como elas se compartam, temos sido testemunhas oculares.

Sou a favor da diversidade, acredito que a pluralidade de ideias enriquece as relações, amplia a qualidade dos trabalhos e propicia uma vida mais saudável para todos. Conhecer e aproveitar o que há de melhor em diferentes culturas é uma oportunidade incrível para qualquer individuo que queira se desenvolver e evoluir. Contudo, quando acontecem casos emblemáticos como os que estamos vendo agora – George Floyd nos Estados Unidos e João Pedro no Brasil – percebo que existem pessoas com um nível de consciência tão baixo que não fazem nem ideia do que significa evolução e desenvolvimento, pluralidade ou diversidade, e menos ainda SER HUMANO, porque não foram capazes de se conectar com o próprio humano do ser. 

Essas pessoas não valorizam a vida, a natureza, o respeito, a liberdade e agem sem compaixão e amor fraternal. Fico assustada, pois ainda são muitas e elas não percebem que estamos todos conectados, que suas atitudes reverberam energia negativa no mundo, no Universo!

Acredito que cada ser humano é diferente e único para além do que é material e tangível (corpo físico), e a beleza da vida está em valorizar o que é diverso e aprender com isso, dessa forma cada ser humano será capaz de evoluir para cumprir sua missão neste planeta.

A partir da antroposofia aprendi que o SER HUMANO é uma unidade e uma totalidade, composta por quatro corpos, o FÍSICO, o VITAL, o ASTRAL e o EU SUPERIOR. Essa quadrimembração do ser humano revela nossa profunda ligação com a natureza. Nosso corpo físico representa o que temos em comum com o reino mineral e todo ambiente exterior (elemento TERRA). O corpo vital representa o que temos em comum com os animais e plantas, pois rege os processos de vida e crescimento (elemento AR). É no corpo astral ou alma que reside o nosso PENSAR, SENTIR e QUERER, guardando sensações, sentimentos, instintos, dualidades, impulsos, representação das nossas ideias, valores e crenças (elemento ÁGUA). E, finalmente o EU superior ou espírito que é a parte mais elevada do SER HUMANO, pois é o que nos distingue de qualquer outra criatura da natureza. É aqui que mora a autoconsciência, autorreflexão, capacidade de fazer escolhas, nossas aspirações profundas e nossa essência espiritual (elemento FOGO). 

Sendo assim, entendo que o HUMANO DO SER está na conexão do Homem com a sua Espiritualidade, com seu EU SUPERIOR. Quando está ligação acontece cada individuo se torna mais consciente e responsável por si e pelo coletivo. Nossa humanidade está em reconhecer de fato a nossa “UMA UNIDADE”, afinal estamos todos conectados através da essência, e ela não tem sexo, raça, religião ou nacionalidade.

A vida daqueles que amamos é valiosa, então se amarmos uns aos outros verdadeira e profundamente, sem distinção, todas as vidas serão igualmente valiosas.

“BLACK LIVES MATTER”

O Poder do Positivo Frente a Adversidade

“O que realmente precisamos é de uma mudança radical da nossa atitude em relação à vida”

-Viktor Frankl-

Todos estamos vivendo um momento de disrupção que segundo o dicionário Houaiss significa uma interrupção ou uma ruptura do curso normal de um processo (nossas vidas e rotinas). 

Certezas e controles foram ‘arrancados’ de nós todos sem exceção de classe social ou nacionalidades. Experimentamos em nossa realidade como é sentir-se Vulnerável, num ambiente Incerto, Complexo e Ambíguo (em inglês VUCA).   

Entretanto, por mais ansiedade que isso possa trazer, podemos aprender grandes lições e criar uma nova e realidade capaz de nos possibilitar atuar!

Vocês podem estar se perguntando: como fazer isso tendo que lidar com o isolamento social, com a diminuição da nossa ocupação habitual, com a revolução global da economia, com os impactos devastadores em nossos negócios? com tantas dúvidas e incertezas como: que medidas serão tomadas? até quando vamos ficar assim? qual será o movimento do mercado? como os investidores irão reagir diante de tanta instabilidade? como ficarão nossos empregos e salários?

Isso tudo certamente tem feito com que sejam criados padrões linguísticos negativos. Basta prestar atenção em si mesmo e nas pessoas a sua volta para identificar pensamentos do tipo: “não acredito que deixamos acontecer”, “não aprendemos nada com o que aconteceu nos outros países”, “vou enlouquecer”, “não vai dar certo”, “não vamos conseguir”, “aqui no Brasil isso não funciona”, “nossa realidade não suporta isso ou aquilo”, “não temos capacidade”, “não temos dinheiro”, etc., etc., etc. 

Esses pensamentos são normais e esperados, pois em situações extremas da vida, onde nossa sobrevivência física e integridade psicológica estão em jogo, o cérebro ativa uma resposta fisiológica coordenada e automática que envolve componentes autônomos, neuroendócrinos, metabólicos e do sistema imunológico, investindo energia para nos manter a salvo. As pesquisas em neurociência mostram que nesses momentos, diferentes estruturas cerebrais são acionadas e em especial as “amígdalas cerebelares”, responsáveis por detectar, gerar e manter emoções relacionadas com o medo, disponibilizando recursos do organismo para enfrentar a ameaça (seja ela real ou imaginária). Contudo, quando essa resposta ao estresse permanece continuamente ativa desencadeia o estresse crônico, o qual prejudica, e muito, nossa capacidade de perceber a realidade, ativar a cognição, ser criativo e estar disponível para cooperar, além de deixar o sistema imunológico desregulado. 

Portanto, frente a um infortúnio, depois do impacto inicial, o melhor a ser feito é colocar atenção nas possibilidades e oportunidades de soluções e para isso se faz necessário doses extras de consciência. Ao permanecermos alertas somos capazes de criar um campo positivo intencional com foco em aprendizagem e evolução. Acessar e gerar emoções positivas inundam o cérebro de hormônios que promovem prazer e bem-estar (serotonina e dopamina) o que facilita a organização das informações e a realização de análises mais claras da situação. 

Além disso, estudiosos afirmam que ao manter o cérebro concentrado no positivo obtemos três importantes benefícios, felicidade, gratidão e otimismo, fundamentais para enfrentarmos situações adversas, como, por exemplo, os efeitos da pandemia COVID-19. 

Adversidade, do latim adversĭtas,ātis  significa ‘antipatia, oposição, repugnância, aversão’. Interessante perceber que todas essas palavras expressão sentimentos em relação a uma situação indesejada, o que sugere uma grande necessidade de regulação emocional para lidarmos com situações desfavoráveis. 

Shawn Achor, autor do livro “O jeito Harvard de ser feliz”, reforça a importância de buscarmos oportunidades positivas e rejeitarmos crença limitantes em nossas vidas, ele afirma que dessa forma ofereceremos, a nós mesmos, o maior poder possível: “a capacidade de nos elevar não apesar dos contratempos, mas devido a eles.

Talvez seja a hora de experimentarmos isso!!

Acredito que as forças evolucionárias (conceito da biologia evolutiva que mostra que genes e cultura se interligam para moldar a evolução humana) estão nos colocando frente a um mundo que ainda não conhecemos e para viver nele é provável que o nosso principal trabalho seja o de nos concentrarmos no desenvolvimento integral do SER HUMANO, alinhando mente (inteligência), coração (sentimentos) e membros (ação). Me parece que esse é o nosso ponto de virada!

Precisamos de muita consciência para agir (sair do modo automático e pensar), por isso investir no estabelecimento e manutenção de uma mentalidade positiva, construtiva e desenvolvedora é muito saudável. Essa atitude favorecerá comportamentos mais empáticos, acolhedores, pacientes, sábios, flexíveis, criativos e resiliente. Assim será possível aprender com as dificuldades.

A neurociência já comprovou que nosso cérebro é capaz de criar realidade (ele não distingue o que é real daquilo que é imaginação, por exemplo,  quando imaginamos um objeto ou vemos o objeto real na nossa frente, uma sequência de neurônios e padrões criaram, da mesma forma, uma representação mental do objeto), por isso, cada um de nós pode interferir intencional, positiva e conscientemente na própria realidade e, consequentemente, na realidade coletiva.

Cada um de nós tem a responsabilidade e o desafio de ser exemplo, um exemplo verdadeiro daquilo que acredita ser bom e transformador.

Não se trata apenas de fé e sim de mudarmos nossas atitudes fazendo pequenas ações no presente, para criar a realidade futura conforme o desejado. 

Cada um de nós é um SER potencialmente repleto de recursos, o que precisamos é mudar a direção da nossa atenção e energia (de olhar externo para olhar interno) para acessarmos nossas mais preciosas forças, pois elas já estão ‘aqui’ e sabem surfar em ondas gigantes, tamanho de um tsunami.

Então, eu te convido a se reconectar com a sua essência, com o melhor das tuas possibilidades fazendo uma ‘viagem de volta para casa’. Esse exercício de olhar para dentro e ao mesmo tempo buscar o bem coletivo nos ensinará muito, em especial a fazer escolhas conscientes e nos responsabilizarmos por elas

Para isso, precisamos agir com generosidade e vontade, mantendo o coração aberto, a mente clara e entrando em sintonia com nossa espiritualidade (independente de religião).

Agindo no “EU” protegeremos o “NÓS”! 

A seguir, compartilho quatro dicas com pequenas ações diárias que podem te ajudar. Você pode experimentar outras coisas se quiser, esses são apenas exemplos de atitudes simples que venho experimentando no meu dia-a-dia, com resultados bem positivos. 

  1. Conexão com a Natureza – busque um jardim, o quintal da sua casa, a varanda do teu apartamento para tomar ar fresco, cuidar das plantas e flores e procure se mover devagar apreciando o momento, apenas observe, sem julgamentos, o que acontece com seus pensamentos, sentimentos e desejos. Sente-se em uma posição confortável, coloque atenção na sua respiração e busque calma. Escolha um elemento da natureza (sol, vento, água, planta, terra, o que desejar) e permaneça ali por alguns minutos (o quanto for agradável) e aproveite para perceber cores, cheiros, texturas, movimentos e como isso se conecta com você. Quando estiver satisfeito agradeça por essa possibilidade de interação entre o EU e a Natureza.
  • Resgate de antigos prazeres – que coisas você adora (ou adorava) fazer e deixou para trás porque estava te faltando tempo? Cozinhar, tricotar, ouvir música, tocar um instrumento, plantar flores, montar quebra-cabeça, bordar, montar e desmontar equipamentos elétricos/eletrônicos, ler, escrever? Escolha algo para fazer e resgate as melhores lembranças e emoções que puder, faça com que elas fiquem acessíveis e componham, de maneira intencional, seu campo de forças.
  • Reforce vínculos – converse mais com seu companheiro/a, seus filhos, ligue para familiares e amigos para ter notícias e oferecer suporte, use a Internet e faça vídeos chamadas (dá até para combinar um café ou almoço virtual J), cante na janela ou jogue (de varanda a varanda) frescobol com seus vizinhos (como temos visto em alguns países do mundo). Somos seres sociais e dessa forma manter relacionamentos 

agradáveis e gentis são muito importantes para nós, isso certamente irá manter nossa alma alimentada e feliz!

  • Alinhamento espiritual – invista tempo em práticas contemplativas como meditação, ioga, exercícios de mindfulness, tai chi chuam, produções artísticas (pintura, argila, mandalas, desenhos, etc.), redação de um diário, ouvir o canto dos pássaros ou o que mais você conhecer e imaginar. Dedique tempo de qualidade para isso e apenas acalme sua mente, ouça seu coração e sinta seu corpo.

Tenho certeza que alimentando a sua alma, mente e corpo de forma saudável você construirá, no presente, a melhor realidade futura que puder!

Invista no poder do positivo, esse tipo de investimento jamais enfrentará as intempéries do mercado 🙂

Ansiedade de Desempenho

O que é ansiedade de desempenho? De onde ela vem?

Ansiedade, um dos principais males do século XXI, é uma reação emocional caracterizada pela expectativa de algum perigo difuso, diante do qual o individuo se considera indefeso ou impotente. Ou seja, não consegue controlar.

A ansiedade contínua pode ser um sintoma catalizador de doenças importantes como, por exemplo, síndrome do pânico, fobias específicas ou social, TOC (transtorno obsessivo compulsivo), TAG (transtorno de ansiedade generalizada) e transtorno de estresse pós-traumático.

De forma simplificada, a ansiedade de desempenho é o medo de não dar conta de fazer algo com máxima competência e de atingir os resultados esperados por nós e/ou por nossos líderes. Entretanto, é justamente ela, a ansiedade de desempenho, que dificulta a conquista de bons resultados, pois pode gerar um ciclo vicioso de comportamentos disfuncionais como a falta de concentração, acumulo de tarefas, aumento das cobranças a nós mesmos e aos nossos liderados, podendo se tornar um gatilho para um processo  de distúrbio de ansiedade (conforme mencionado acima).

A ansiedade de desempenho atrapalha o avanço da carreira profissional e, assim, tornando-se um grande desafio a ser encarado.

Isso porque a ansiedade nos leva a uma constante preparação para o enfrentamento e com isso mobiliza nossas energias podendo ao tronar-se crônica gerar uma sensação de desânimo ou até mesmo de impotência que invade a cabeça do indivíduo e reduz a nossa autoconfiança quanto ao nosso futuro no trabalho. A pressão por resultados imposta a si mesmo gera dúvida sobre sua capacidade de cumprir tarefas e prazos estabelecidos, comprometendo ainda mais o rendimento esperado. Pensamentos de fracasso alimentam a ansiedade de desempenho, causando falta de foco e a criação de um círculo vicioso. Portanto, é possível concluir que a ansiedade de desempenho pode estar relacionada ao excesso de cobrança que as pessoas fazem a si mesmas. Essas cobranças podem vir do desejo de agradar alguém, do desejo de competição (se mostrar mais competente que outros) ou de momentos de baixa autoestima.

No mundo atual, onde a velocidade das mudanças são cada vez maiores e a necessidade de lidar com incertezas, complexidades e ambiguidades em nosso dia-a-dia se faz cada vez mais presente, as pessoas tentam estabelecer alguma sensação de controle se cobrando cada vez mais. Desejam apresentar performances espetaculares, perfeitas, querem se comportar sem falhas e atender a todas as expectativas (que na maioria das vezes nem são declaradas, fazem parte da imaginação daquele que se cobra).

É preciso compreender que isso nunca foi e jamais será possível, pois errar faz parte do processo evolutivo e da condição de SER HUMANO!

Para deixar essa questão ainda mais claras é preciso dizer que, muitas vezes, as pessoas deixam de agir como Protagonistas e passam a se colocar de forma bastante coadjuvantes nas situações. O medo de errar, a sensação de incompetência, o sentimento de vergonha por não atender a expectativa do grupo,  fazem com que o individuo vá minando suas forças e se colocando à margem de tudo a sua volta, e quanto mais o tempo passa, menos coragem o individuo tem de se assumir como Protagonista.

Investir tempo e energia se comparando com outros para buscar a perfeição idealizada, deixa o individuo ainda mais distante de suas conquistas. Pessoas que vivem dessa forma agem com pouca ousadia e criatividade, pois evitam tomar riscos. Isso é muito paradoxal, pois assumindo a postura de quem evita erros nos distanciamos da conquista de resultados diferenciados.

Infelizmente, essa cobrança pelo desempenho excepcional pode ser feita em qualquer aspecto da vida, seja familiar, sexual, social, profissional e outros. O que revela a necessidade de cuidar de si mesmo para evitar que a ansiedade o paralise.

Um exemplo real do que descrevi acima.

Trata-se da história do Alfredo (nome fictício do nosso protagonista), publicitário muito competente, criativo e, segundo seus colegas, gestores e clientes, um redator brilhante, capaz de produzir textos memoráveis. Alfredo era muito admirado na agência!

Ele me procurou porque, apesar de lidar de forma exemplar com as palavras escritas, tinha um medo enorme de falar em publico. Entrava em ansiedade só por saber que teria que se expor em alguma situação e, para deixar a dimensão do problema ainda mais clara, para ele falar em publico significava falar para outras duas pessoas. A convocação para qualquer reunião, ainda que apenas para ouvir um comunicado, era sinônimo de noites sem dormir à procura de uma desculpa convincente para não comparecer.

Certa vez, Alfredo recebeu uma proposta de trabalho fantástica de uma agência muito famosa. Soube que o convite tinha sido motivado em função da qualidade de seu trabalho, criatividade e… pelos seus brain storming.

Tudo (quase) acertado, o executivo o convidou para uma reunião, na qual ele se apresentaria aos demais sócios da empresa e aos futuros colegas. Alfredo sabia que só́ um bom desempenho naquela reunião lhe garantiria aquele emprego (sonho de muitos publicitários). A empresa tinha como filosofia o trabalho em grupo, por isso a equipe opinava sobre as contratações.

Então, Alfredo decidiu que era chegado o momento de “vencer o medo”.

Para isso, se impôs da missão de não pensar no problema e seguir adiante, afinal já estava na hora de superar aquela “frescura”.

No dia e hora marcados foi para a reunião, encantado com a ideia de conseguido vencer o problema, acreditando que “aquela bobagem de medo era coisa do passado”.

A recepcionista o conduziu até a sala de reuniões e, diante da porta aberta, Alfredo teve uma visão aterradora, havia uma mesa enorme com umas vinte cadeiras e era sua primeira visita à empresa, e foi a última também. Acreditem, ele desmaiou e teve que ser socorrido. Ao recobrar os sentidos quase morreu de vergonha e nunca mais teve coragem de restabelecer contato com aquelas pessoas.

Mas o que foi que aconteceu?

De forma consciente, Alfredo acreditou que tinha bloqueado o medo, contudo em seu inconsciente o medo só cresceu e naquele instante transbordou.

Esse é um fenômeno que já acometeu vários atletas, às vezes um individuo ou equipe estão muito bem preparados, completamente capazes de ganhar uma medalha de ouro, por exemplo, mas a cobrança interna fruto do medo de decepcionar (o técnico, colegas ou a Nação) gera grande ansiedade provocando uma forte descarga de adrenalina na hora errada, o que leva tudo por água à baixo. Em contrapartida, quando não há ansiedade de desempenho, a descarga adequada de adrenalina (o famoso friozinho na barriga) contribui favoravelmente para uma boa performance, mas para isso é necessário um bom preparo e ajustamento emocional.

Para se livrar, ou passar a lidar melhor com a ansiedade de desempenho é preciso aprender a regular as próprias emoções (a prática de meditação, a manutenção do foco na respiração, exercícios de ressignificação ou projeção da situação podem ser fortes aliados) e desenvolver a resiliência. Dessa forma será possível evitar que a ansiedade atrapalhe a conquista dos resultados desejados.

Uma das ações mais eficazes para contornar esse problema no ambiente corporativo é a busca de estratégias eficientes como o estimulo a pensamentos positivos, garantia de preparo para execução das atividades propostas e o reconhecimento de valor, ou seja, reconhecer a si mesmo (e ao outro se você for um gestor) por pequenos êxitos ao longo da caminhada até o objetivo final. Essas pequenas atitudes ajudam a elevar a autoestima, criando um campo propicio para o sucesso.

Vale à pena destacar que, uma mudança no estilo de vida é essencial para combater a ansiedade, e isso inclui atividades físicas, alimentação saudável, contato social prazeroso e lazer.  Além disso, trabalhar a gestão dos pensamentos e sentimentos através do autoconhecimento pode ajudar, e muito, no desenvolvimento da autoconfiança. Esse trabalho pode ser feito sozinho ou com a ajuda de um profissional.

Outra dica interessante para esse tipo de ansiedade é a troca de experiências em grupo, onde ao ouvir as histórias uns dos outros, é possível identificar com maior facilidade o ‘modus operandi’ do excesso de cobrança e o quanto isso é contraproducente. Além disso, quando um membro do grupo compartilha uma situação de sucesso, encoraja os demais a continuarem buscando seus caminhos para vencer as dificuldades.

Espero que você tenha feito boas reflexões e que leve os aprendizados para seu cotidiano!

4 dicas praticas para lidar com a quarentena (Covid-19)

“Nós fomos feitos para esses tempos.”

Clarissa Pinkola Estés

Recebi uma mensagem de e-mail que continha a frase acima e fiquei me perguntando: “frente ao COVID-19 o que isso realmente significa, que tempos são esses, o que nos faz ‘feitos’ para ele”?

Essas questões me levaram para uma investigação interior e depois de alguns dias acredito que, de alguma forma, estamos sendo instigados a desenvolver novas competências. Talvez tenhamos que colocar em ação nossa criatividade, resiliência, flexibilidade e outras habilidades mais  …

Minha sensação é que a necessidade de pensar no bem coletivo partindo do agir individual pode nos ensinar muito, em especial a fazer escolhas conscientes e nos responsabilizarmos por elas. Certezas e controles foram ‘arrancados’ de nós e, por pior que pareça, isso pode ser uma coisa especial, maravilhosa e benéfica!

Acredito que cada um de nós seja um ser potencialmente repleto de recursos, porém nem sempre eles estão visíveis, por isso é necessário consciência, generosidade e ação para nos apropriarmos deles para que se tornem nossos grandes aliados na vida. 

Parece que estamos num ponto de virada onde as forças evolucionárias (conceito da biologia evolutiva que mostra que genes e cultura se interligam para moldar a evolução humana) estão nos colocando frente a um mundo que ainda não conhecemos. É possível que o nosso principal trabalho seja nos concentrarmos no desenvolvimento integral (inteligência+coração+ação) – próprio e dos outros.

Como fazer isso tendo que lidar com o distanciamento e isolamento social, com a desaceleração da nossa ocupação habitual, com nossas dúvidas e incertezas, com a revolução global da economia? 

Fiquei pensando como eu poderia me ajudar e ajudar outras pessoas e então, nos últimos dias, passei a experimentar algumas práticas diárias e estou aqui para compartilhar com você.

Te convido para fazer uma ‘viagem de volta para casa’, se reconectando com sua essência, pois acredito fortemente que ao mudarmos a direção da nossa atenção e energia (de orientação para fora para orientação para dentro) poderemos acessar nossas mais preciosas forças, pois elas já estão ‘aqui’ e sabem surfar em ondas gigantes, do tamanho de um tsunami. Mas para isso precisamos manter o coração aberto, a mente clara e entrar em sintonia com nossa espiritualidade.

Como diria o poeta Walter Franco, “Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”.

As 4 sugestões que compartilho abaixo nos ajudam a acessar nossos melhores recursos, o melhor de nós mesmos. Acredito que é isso que precisamos para enfrentar as questões diárias e o que está por vir. 

São coisas básicas que qualquer pessoa pode fazer:

  1. Conexão com a Natureza – busque um jardim, um parque ou o quintal da sua casa para tomar ar fresco, procure se mover e observar o que acontece com seus pensamentos, sentimentos e desejos. Encontre um local agradável, escolha uma posição confortável, respire profundamente por pelo menos 3 vezes e leve sua atenção para um elemento da natureza. Permaneça ali por algum tempo (o quanto te for agradável) percebendo cores, cheiros, texturas, movimentos e como eles se conectam com você. A seguir, registre (por escrito) o que aprendeu sobre essa conexão – EU e a Natureza.
  • Resgate de antigos prazeres – que coisas você adora (ou adorava) fazer e deixou para trás porque estava te faltando tempo? Cozinhar, tricotar, ouvir música, tocar um instrumento, plantar flores, montar quebra-cabeça, bordar, montar e desmontar equipamentos elétricos/eletrônicos, ler, escrever? Escolha algo para fazer e resgate as melhores lembranças e emoções que puder, faça com que elas fiquem acessíveis e componham, de maneira intencional, seu campo de forças.
  • Reforce vínculos – converse mais com seu companheiro/a, seus filhos, ligue para familiares e amigos para ter notícias e oferecer suporte, use a Internet e faça vídeos chamadas (dá até para combinar um café ou almoço virtual J), cante na janela ou jogue (de varanda a varanda) frescobol com seus vizinhos (como temos visto em alguns países do mundo). Os relacionamentos são muito importantes, isso certamente irá manter sua alma alimentada e feliz!
  • Alinhamento espiritual – invista tempo em práticas contemplativas como meditação, ioga, mindfulness, tai chi chuam, produções artísticas (pintura, argila, mandalas, desenhos, etc.), escrever um diário, ouvir o canto dos pássaros. Apenas acalme sua mente, ouça seu coração e sinta seu corpo.

Alimente sua alma, mente e corpo de forma saudável e construa, no presente, a melhor realidade futura que desejar!

Conte comigo!!!

Um grande e carinhoso abraço energético

Carlla Zanna

Five Takeaways for CEOs and Boards

If you’re a CEO, how could a better understanding of organizational culture help you? Conversely, how can the inability to manage or change culture hold the business back? During a recent gathering of CEOs and board directors in Chicago, we kicked off a discussion about culture and business performance with a simple question: How does the topic of culture come up at the board level or with your executive team today?

The responses reflected the breadth of strategic and business challenges that CEOs and their teams face today, including:

  • Aligning the organization around a transformation agenda
  • Innovating for the future while maintaining strong execution today
  • Integrating teams and organizations in a merger or acquisition
  • Effectively managing a changing workforce
  • Building organizational support for a new CEO
  • Bringing customers along with new processes or offerings

Our discussion with CEOs and board directors underscored why it’s so important for leaders to manage and shape culture today. Here are five takeaways from our discussion.

  1. Culture should be viewed as a foundational business system and managed as such.
    Amid the unprecedented volatility, uncertainty, complexity, ambiguity and pace of change facing organizations, culture plays an important role in helping organizations adapt to emerging challenges. It’s not enough for leaders to rely on strategy, structure and processes to manage the business because they don’t adequately address the people side of the change equation. But the right culture allows companies to coordinate activities across very big, complex organizations very quickly. Organizations that embrace the same sort of management discipline around culture as they do for other key performance levers like strategy and financial operations will be best positioned to shape culture to support emerging needs. Ideally, conversations about culture will be integrated into the natural flow of the business — during regular management team meetings, the annual strategy session and other follow-up strategy discussions.
  2. Managing culture requires a definition and a model.
    It’s not unusual for “culture” to become a catch-all for everything people don’t like about an organization, or for people to think about culture in terms of the outcomes they want to achieve — say, a customer-focused culture. But this isn’t that helpful, because customer focus at Google will look very different than at Goldman Sachs or Disney. To understand culture, we need to look deeper at the underlying social system that directs the organizational behaviors that lead to specific outcomes. We define culture as the shared assumptions that drive the way organizations think, behave and act. Culture is pervasive; whether leaders acknowledge it or not, it’s everywhere. Executives have an opportunity to either shape culture or allow it to shape them.

To shift the culture, you first have to be able to articulate what the culture is today and whether it supports your strategic priorities. Our culture model allows us to identify the underlying shared assumptions that are most influential in the organization and how they are guiding the way the organization thinks, behaves and acts — and how those assumptions align with stated strategy. 

  • Start from the outside-in when setting a target culture.
    When working with organizations to define a target culture, we recommend starting with the external trends that will affect the business. What regulatory, competitive and customer trends drive what the organization needs to do? We also look at the company’s strategic direction, as well as its heritage, history and current culture. Finally, we consider the kind of culture that would motivate and draw out the best of the current workforce. These data points serve as inputs for business leaders in making a data-based decision about what that target culture should be and how they can align their people around it.
  • Culture and leadership are inextricably linked, so select and develop leaders who support the culture you want.
    The style of the management team — especially the CEO — the way they behave and communicate, what they focus on in meetings, the questions they ask and the people who they hire, recognize and promote all send signals about the culture and how to succeed in it. That’s why when you’re trying to shape culture, leaders play a central role in setting the tone and changing habits. A very aggressive, results-focused culture, for example, will bring out those behaviors in leaders or push out people who don’t like that culture. An important part of shifting culture in a certain direction, then, is leadership selection — who is in what roles and the models they set. The most effective culture change leaders are credible in the current culture, but are able to help push the culture in the desired direction.
  • Boards overlook an important area of risk and performance oversight if they aren’t asking about culture.
    A company’s culture can make or break even the most insightful strategy or the most experienced executives. Cultural patterns can produce innovation, growth, market leadership, ethical behavior and customer satisfaction. On the other hand, an unhealthy or misaligned culture can impede strategic outcomes, erode business performance, diminish customer satisfaction and loyalty, and discourage employee engagement. Boards should consider whether they have an adequate line of sight on the culture and understand the cultural fluency and impact of the management team. In addition to assessing any potential risks the culture could pose, boards also will want to incorporate thinking about culture into forward-looking activities such as CEO succession planning.

***

When there is a need to shift the culture, it’s tempting to focus on all the ways the current culture isn’t working or focus energies on short-term initiatives or one-day workshops. But absent a framework and ongoing management discipline around culture, the organization is likely to quickly fall back into familiar habits and cultural patterns. Our research has shown that culture can be managed and shaped by diagnosing the current culture; defining a target culture that aligns with the needs of the business; selecting and developing leaders with culture in mind; gaining buy-in for the target culture through structured conversations across the organization; and ensuring that performance management, training, compensation and other systems and processes support the ideal culture.

Our study published in Harvard Business Review lays out a vocabulary for talking about culture in a rigorous way and a roadmap for managing and changing culture.

Considerações e Provocações

Há décadas os estudos sobre cultura organizacional tem sido um campo frutífero para a compreensão dos fenômenos corporativos, sobretudo no momento atual onde nos deparamos, com a emergência de processos complexos, as frequentes mudanças, internacionalizações, fusões e aquisições, sucessão, entre outros. A cultura permeia os diferentes setores e níveis das empresas, exercendo reconhecida influência sobre o comportamento de seus profissionais e definições estratégicas.

Sabemos que a cultura organizacional é responsável por reunir os hábitos, comportamentos, crenças, valores éticos e morais e as políticas internas e externas de uma empresa. Uma cultura considerada boa pelos funcionários, costuma ser motivo de motivação, pois todos identificam oportunidades de desenvolvimento, junto o com o crescimento do negócio. Por outro lado, uma cultura desfavorável pode levar a empresa ter sérios problemas de produtividade e baixa qualidade de relacionamento no ambiente de trabalho. Juntando isso aos desafios mencionados no inicio deste texto, como executivo, o que você tem feito para alinhar a cultura organizacional e os objetivos estratégicos do negócio?

Numa empresa de sucesso, a cultura organizacional é responsável por indicar as diretrizes, começando pela forma como os funcionários enxergam o negócio, agem dentro dele e a imagem que transmitem ao mercado. Geralmente, quem investe em gestão de pessoas acaba gerando maior satisfação entre os clientes e obtendo maior lucro em suas atividades. Isto está diretamente relacionado ao primeiro aprendizado citado no texto – ver a cultura como uma ferramenta comercial. Nossa pergunta é: como a cultura da sua organização tem apoiado (ou não) as adaptações necessárias para os emergentes desafios da nossa era?

Segundo Hélvio Tadeu Cury, professor de gestão de pessoas, a empresa que possui valores bem definidos e amplamente compartilhados (através de um processo claro de comunicação e, especialmente pelos exemplos vividos) elevam o impacto positivo que as lideranças podem  causar sobre o comportamento dos demais colaboradores. Esse ponto remete ao segundo aprendizado citado no texto – gerenciar cultura requer definição e modelo. Sendo assim, como você percebe sua influencia no sistema? Você acredita ser uma inspiração capaz de compartilhar premissas que guiem a maneira como a organização pensa e age? Essas premissas estão alinhadas com a estratégia declarada para o negócio?

Não existem culturas certas ou erradas, boas ou ruins, todas possuem pontos fortes e fracos. O que faz uma cultura ser boa é sua adequação ao nicho que pertence e ao momento que a organização está vivendo, para isso é necessário levar em consideração o movimento do mercado e as tendências. Num mundo globalizado, volátil, complexo, ambíguo e incerto, como você, executivo, está lidando com isso? Quais tem sido seus desafios pessoais para garantir que o negócio esteja caminhando com objetivos claros com pessoas em sintonia com o que se pretende?

Em sua obra Cultura Organizacional e Liderança, E. H. Schein mostra com maestria e clarteza que os líderes criam a cultura na medida em que criam grupos e organizações, ao mesmo tempo, afirma que a cultura, uma vez criada define os critérios para a liderança, determinando quem será ou não líder. Ou seja, culura e liderança são dois lados de uma mesma moeda. Que  estilo de liderança você adpota copm mais freqiuencia? Como isso impacta as pessoas a sua volta? Que mensagens  você e sua equipe direta está passando para os demais membros da organização?

Nossa provocação final…

O que pode ser feito para obtenção de melhores resultados utilizando a cultura como base?

Comunicação Não Violenta – Visão Geral e Dicas

“Acredito que é de nossa natureza gostar de dar e receber de forma compassiva”  

                                                       Marshall Rosenberg  (1934 – 2015)                                                                                

“Se é da comunicação humana o ato de falar e ouvir e, se quando o fazemos de coração isso nos liga uns aos outros …” (M. Rosenberg) a comunicação é a nossa principal ferramenta de interação e conquistas, pois tudo na nossa vida se dará através dela. 

A afirmação acima me instigou a pesquisar e estudar como o processo de comunicação defendido pelo Dr. Marshall Rosenberg poderia ser útil no dia-a-dia de gestores e líderes. Afinal, estabelecer uma comunicação eficaz é fundamental para todos, em especial para aqueles que tem como missão influenciar e mobilizar pessoas para a conquista de resultados.

Durante meus estudos percebi que nós, humanos, nos comunicamos  de forma ‘violenta’ muito mais do que eu imaginava e que, na maioria das vezes, fazemos isso de forma completamente inconsciente e sem intenção, apenas porque aprendemos dessa forma.

Em seu trabalho de campo o Dr. Rosenberg identificou três formas mais comuns, de comunicação violenta:

  1. Exercício do Controle – cortar os outros enquanto falam, exagerar os fatos, falar de forma absoluta (a sua verdade é a verdade), dominar a conversa 
  2. Rotulações – estereotipar ou categorizar pessoas, generalizar e xingar 
  3. Ataque direto – não deixar que o outro fale, aumentar muito o tom de voz, depreciar o que está sendo dito e ameaçar o outro.

Aprendi que a linguagem habitual do ser humano pode ser bastante violenta e alienante nos afastando de nosso estado compassivo natural, pois tal linguagem possui como raiz os julgamentos moralizadores que buscam dominação e convencimento uns dos outros, ao invés de focar em estabelecer relações de liberdade, autonomia e responsabilização, como preconiza a ”Comunicação NãoViolenta” – CNV.

A CNV surge como uma forma de rever os critérios de interação entre as pessoas, através da atenção aos comportamentos e sentimentos envolvidos na comunicação. Não se trata de uma técnica e sim de uma intenção consciente (de abertura e humanização das relações) durante o processo de diálogo, pois como disse Rumi, poeta sufi do século XIII, “para além das ideias de certo e errado existe um campo e eu me encontrarei com você lá”.

Esse modelo foi baseado nas ideias de Gandhi e na psicologia humanística de Carl Rogers, apoiando o estabelecimento de relações de parceria e cooperação, em que predomina uma comunicação eficaz com empatia. O Dr. Rosenberg descobriu que esta forma de influência mútua tende a inspirar ações compassivas e solidárias, sendo cada vez mais utilizada por uma rede mundial de mediadores, facilitadores e agentes voluntários, com o objetivo de agir de forma prática e eficaz em favor da paz. 

A CNV vem se consolidando como linguagem intercessora, possibilitando melhor compreensão das palavras, estimulando relações profissionais e pessoais mais harmônicas. Não se trata de um método, trata-se sim de uma forma diferente de organizar a comunicação quando se tem a intenção de estabelecer um diálogo positivo, harmonioso e acima de tudo, respeitoso.

Qualquer pessoa pode usufruir e se beneficiar da prática da CNV, pois para isso não é necessário que o interlocutor a conheça ou esteja disposto a se comunicar compassivamente conosco, basta que durante o diálogo pelo menos uma das pessoas se atenha aos princípios da CNV, ou seja, esteja motivada  a dar e receber com compaixão, dessa forma o outro se juntará a ele durante o processo. 

Isso não acontece de forma imediata e também não há garantias, por isso exercitar a comunicação empática é a única forma de fazer com que um fluxo verdadeiro e generoso – de coração para coração – flua entre mim e o outro. Marshall Rosenberg, nos convida a aprimorar o olhar de tal forma que a empatia seja amplamente valorizada, como mostra a imagem a seguir:

Uma imagem contendo verde, colorido, grande, jogador

Descrição gerada automaticamente

O modelo da CNV possui quatro componentes, onde expressões honestas são os pressupostos básicos da comunicação. Sua essência está na consciência destes componentes durante o processo e não nas palavras que são trocadas, inclusive porque a comunicação pode ser feita de forma verbal ou não verbal.

  1. Observação – declarar de forma descritiva a situação, sem julgamento ou análises, mantendo foco exclusivo aos fatos. 
  2. Sentimento – perceber claramente o que está sentindo em relação ao fato e comunicar ao outro.
  3. Necessidades – reflexão sobre as necessidades que queremos ver atendidas, ao invés de apontar erros em si ou no outro (ao invés de pensar no que está errado na situação ou com o interlocutor).
  4. Pedido – verbalizar de forma clara, positiva e assertiva o que é preciso para enriquecer a sua vida e a do outro (isso é difícil, pois eles podem nos mostrar partes de nós que não queremos ver).

Como isso funciona na prática?

Imaginem a seguinte cena: uma mãe chegando em casa depois de um dia puxado de trabalho e mais uma vez encontra a sala bagunçada pelo filho adolescente que está no seu quarto ouvindo música. Ela vai até o quarto para falar com ele, descarregando seus sentimentos e emoções …

Talvez essa mãe diga algo como … “caramba filho estou cansada, trabalhei o dia todo e agora chego em casa e encontro a sala toda bagunçada com as suas coisas. Não é a primeira vez, você não tem jeito mesmo, é um bagunceiro, não colabora, fica o dia inteiro ouvindo essa música infernal!!! Estou farta disso!”

Provavelmente, ao expressar seus valores e necessidades dessa forma a mãe acaba provocando resistência em relação as suas reais necessidades e reforça uma postura defensiva do filho, que poderá reagir na direção esperada não por sentir um desejo genuíno e sim por medo, vergonha ou culpa. Ele poderá tirar suas coisas da sala, contudo, cedo ou tarde ambos sofrerão as consequências dessa ação de “boa vontade”, pois aquele que se submete aos valores e necessidades do outro acaba ruminando ressentimentos e minando a autoestima.

Outras possíveis reações do filho poderiam ser, entrar num emaranhado de justificativas sobre seu comportamento ou se colocar como vítima (estou sempre errado, você nunca valoriza o que eu faço), a questão é, em qualquer uma das alternativas nada de positivo seria produzido nesse tipo de conversa. 

Essa abordagem é considerada violenta, não por existir agressividade explicita como gritos ou destemperos emocionais, e sim porque está permeada de julgamentos e postura coercitiva. Nesse exemplo, a mãe apenas coloca para fora o que está sentindo e acusa o filho. Dessa forma a questão não será resolvida e a relação entre eles ficará desgastada.

Como seria essa conversa usando a CNV?

Mãe:  Roberto quando eu chego em casa e vejo duas bolas de meias sujas debaixo da mesinha, mais três perto da TV e seu calção de futebol no canto do sofá (observação) fico irritada e frustrada (sentimento) porque preciso de mais ordem no espaço que usamos em comum (necessidade). Você poderia colocar suas meias e calção sujos no seu quarto ou direto na máquina de lavar? (pedido).

Filho: Mãe eu não quero deixar as roupas sujas no meu quarto e nem colocar na máquina de lavar, mas posso colocar no cesto de roupas sujas que fica na lavanderia, isso te atende? 

Mãe: Sim filho, atende!

Observamos que ao garantir esses quatro passos, seja falando para o outro ou ouvindo dele o que necessita, é possível mudar a qualidade da comunicação, pois a escuta fica mais atenta, a expressão dos sentimentos não aponta erros e a necessidade de ambos é considerada e respeitada. 

A CNV vem sendo utilizada com sucesso, em relacionamentos íntimos, famílias, escolas, organizações, negociações diplomáticas e comerciais, disputas e conflitos de qualquer tipo. 

Um dos exemplos que gosto de compartilhar é o de uma professora do ensino fundamental numa escola publica de Chicago que compartilhou a seguinte história: “há um ano venho utilizando a CNV na minha turma de alunos com necessidades especiais e estou comprovando que essa forma de comunicação  pode ser eficaz inclusive com crianças como as minhas, que possuem um desenvolvimento mais demorado da linguagem, dificuldades de aprendizagem e de comportamento. Um dos meus alunos costumava cuspir, falar palavrões, gritar e espetar outros alunos com o lápis sempre que alguém se aproximava de sua carteira, isso me tirava do sério e atrapalhava todo fluxo da aula com os demais alunos. Depois que participamos dos seminários sobre os princípios da CNV (nestes eventos com crianças são usados fantoches de girafa para elucidar o processo, pois sendo a girafa o animal com o maior coração entre todos os animais, passou a ser o símbolo da CNV) as coisas melhoraram muito. Hoje quando acontece alguma coisa eu digo a ele: por favor, diga isso de outro jeito, use a sua conversa de girafa e, na mesma hora ele se levanta, olha para o colega do qual está com raiva e diz com calma: “por favor, você poderia sair de perto da minha carteira, eu fico com raiva quando você fica tão perto de mim”, em geral, os colegas respondem com algo do tipo: “me desculpe, eu tinha esquecido que isso deixa você com raiva”. Além disso, passei a refletir sobre a minha frustração em relação a essa criança, pois passava horas planejando e construindo as aulas para depois não conseguir coloca-las em ação. Descobri que além de atender minha necessidade de harmonia e ordem, eu precisava atender a minha necessidade de ser criativa e contributiva, as quais estavam sendo negligenciadas pela necessidade de manter o bom comportamento da classe, e também senti que não estava atendendo as necessidades educacionais dos demais alunos. Quando me dei conta de tudo isso (ampliando minha consciência) fui capaz de agir diferente, então quando essa criança apresentava qualquer demonstração de raiva durante a aula eu dizia “preciso que você preste atenção em mim”, ele captava a mensagem e passava a prestar atenção na aula. Eu tive que repetir esse pedido dezenas de vezes, mas o efeito era imediato, dessa forma me livrei daquela sensação de frustração, o que tornou o convívio de todos (alunos, pais e eu) muito mais fluido e positivo.”

Esse depoimento deixa claro que qualquer pessoa pode se comunicar de forma compassiva, basta querer isso de coração. 

Lembre-se:

“Empatia é onde conectamos nossa atenção, nossa consciência, não o que falamos.” – Marshall Rosenberg

Autoconhecimento – uma estratégia singular para o desenvolvimento

Você gostaria de ser uma versão melhor de si mesmo a cada dia? 

Está disposto a investir tempo e energia no seu próprio desenvolvimento?

Se sua resposta for SIM será necessário mergulhar em si mesmo e suas idiossincrasias, o que é um grande desafio, e também nosso ponto de partida!

Para entender toda complexidade do humano que nos habita será necessário ir além daquilo que é superficialmente expresso, será necessário adotar uma postura generosa, com olhar e escuta profunda e integral para ampliar sua consciência sobre si mesmo.

Todo processo de desenvolvimento é exigente, pois requer disposição para experimentar coisas novas (pensamentos, sentimentos e comportamentos), afinal quem não evolui chega sempre aos mesmos lugares (resultados). 

Para ajuda-lo em sua evolução continua escolhemos como fundamento o conceito da “Trimembração do Ser Humano”, ideia estabelecida por Rudolph Steiner, criador da antroposofia. Trata-se de observar o corpo a partir de suas três partes distintas, cabeça, tronco e membros.

Na cabeça predominam estruturas frias, de baixa vitalidade e alta especialização tendo como representante maior o cérebro, que guarda o PENSAR. Em contraposição, no abdômen e membros predominam estruturas mobilizadoras com intensa atividade metabólica, processos de regeneração celular, impulso muscular e sustentação do corpo, onde se guarda o QUERER. Finalmente, entre esses dois pólos está o tórax (tronco) que acomoda os órgãos rítmicos, coração e pulmões, estruturas quentes que guardam o SENTIR, promovendo o equilíbrio e interação saudável entre a cabeça e os membros. 

“No coração tece o sentir.

Na cabeça luze o pensar.

Nos membros vigora o querer.

Luzir que tece, tecer que vigora, e vigorar que luze.

Eis o Homem.”

Rudolf Steiner 

Conhecer e entender as dimensões que conferem a essência do ser, sua individualidade e as forças interiores de seus pensamentos, sentimentos e “quereres” facilita muito a jornada de desenvolvimento e aprendizagem.

na “mente” estão – os fatos, conceitos, argumentos, ideias e lógica 

no “coração” estão – as emoções, valores e vivências 

nos “membros” estão – a energia, intenções, vontades, propósitos e motivação 

A dimensão do Pensar está localizada no sistema neurossensorial, onde é possível identificar a capacidade do ‘pensar saudável’ que acessa a cognição, o intelecto e a memória. Possui qualidades como lógica, clareza, transparência, objetividade, racionalidade, etc. e, segundo pesquisadas realizadas, o cérebro tem o papel de identificar tudo que não é material, quando captado pelos órgãos dos sentidos, mantendo apenas a essência. Por exemplo: dos alimentos ele capta o gosto, das montanhas a imagem, do ar o frescor. Ou seja, de todas as interações que temos com o mundo, o cérebro registra o sumo da experiência e constrói um mapa mental único (não existe um cérebro igual a outro), onde passam a residir os nossos ‘saberes’. Essa dimensão está ancorada no passado, em nossa história, educação e vivencias. O pensar revela muito sobre o indivíduo, pois é nele que estão nossos referencias de vida. Portanto, se você quiser sentir coisas diferentes e fazer coisas diferentes, necessariamente terá que ampliar a qualidade dos pensamentos.

A dimensão do Sentir está localizada no sistema rítmico e tem como núcleo o coração, o guardião da coragem (do latim coraticum – cor (coração) + aticum (ação),  ação do coração). É o sentir que conecta o pensar (cabeça) e o querer (membros) nos mobilizando para as mudanças. A energia do sentir é volátil e atua entre polaridades de simpatia ou antipatia, do gosto ou não gosto. Por exemplo: se você está dirigindo um carro com tranquilidade e, de repente, é fechado por outro 

veículo é natural uma instantânea mudança de energia (de tranquilo para agitado) e todo sistema rítmico é alterado (respiração, frequência cardíaca e pressão sanguínea). Portanto, para compreender o que realmente acontece nessa dimensão é necessário se despir das racionalizações, inferências e julgamentos. Conseguir ter uma percepção acurada dos próprios sentimentos já é bastante desafiador, pois infelizmente com o tempo temos a tendência de generalizar nossas emoções (emoções genéricas: incomodado, desconfortável, bem, mal, normal, etc.). Imagine então como é complexo conseguir ter uma percepção cuidadosa sobre as emoções de outros!? Por isso, ter e manter uma postura fortemente empática é condição indispensável para nos conectarmos emocionalmente com os outros. 

O sentir se ancora no presente, representando o reflexo emocional sobre os momentos vividos.

A dimensão do Querer está localizada no sistema metabólico motor. É nessa dimensão que o agir volitivo se encontra e, comumente se realiza em estado de inconsciência (ações automáticas ou hábitos). É no querer que colocamos o pensar em ação e isso acontece através do movimento dos membros, deslocamento do ar quando falamos, etc. Por exemplo, um escultor, ao ver um bloco de mármore pode imaginar uma bela obra de arte (PENSAR), mas que se tornará realidade apenas quando ele, com seus músculos e movimentos for capaz de lhe dar forma (QUERER), mostrando que as forças do querer são complementares as do pensar, pois é o querer que materializa nossas imagens mentais. No querer encontramos as forças de transformação do ser humano, os instintos e, eventualmente as cobiças. 

O querer se ancora no futuro, é a visão que nos faz realizar.

Todo processo de desenvolvimento mobilizará essas forças. O sucesso está em conseguir, de forma consciente, equilibrar as três dimensões, PENSAR, SENTIR E QUERER. Esses padrões (princípios arquetípicos) estão muito presentes em cada um de nós, identifica-los, respeitá-los e conhecer o que pode ser aprimorado pode favorecer muito nosso desenvolvimento e elevar a qualidade das nossas interações abrindo caminhos de cooperação. 

Cuidar do próprio desenvolvimento é desafiador, buscar apoio de alguém com postura construtiva e integradora pode nos ajudar a descobrir como é a “versão atualizada” que desejamos para nós mesmos; versão essa que irá nos levar, com maior facilidade, até onde pretendemos (nossas conquistas, objetivos, resultados). 

Contudo, o outro só será capaz de nos ajudar se soubermos o que pedir. Dessa forma, um primeiro e relevante exercício para essa jornada de desenvolvimento é escutar a si mesmos de maneira profunda e se observar para identificar padrões de pensamentos e sentimentos, os quais são as verdadeiras fontes de energia e comportamento de cada indivíduo. 

Ao fazer esse exercício será possível reconhecer (em si mesmo e nos outros) os padrões de quem age mais a partir de cada uma das esferas humanas: 

pensar – são pessoas argumentativas, com ideias e discursos excelentes, elucidam conceitos de forma didática e brilhante, mas possuem dificuldade para realizar

sentir – são pura emoção, pessoas movidas pelo impulso tendem a ser consideradas imaturas, sonhadoras, explosivas, destemperadas ou até mesmo superficiais e ingênuas, pois possuem dificuldade para conectar o pensar e o fazer

querer – são pessoas que fazem o que tem que ser feito, agem antes de tudo, mas possuem dificuldade para pensar, para avaliar as consequências dos atos e pouco se apropriam dos conceitos de uma determinada situação, podendo atropelar outros.

Lembre-se, o melhor das nossas possibilidades, nosso máximo potencial, emergirá com mais força e efetividade quando formos capazes de equilibrar as três dimensões humanas!

Fonte: Liderança Realizadora – LUMO

Maiêutica e Liderança

By Dr. Paulo Gaudêncio

A metafísica se fundamenta numa concepção dualista do universo, estabelecendo uma oposição de valores entre duas esferas distintas da realidade ou do ser: de um lado, existe um domínio ideal, considerado como o verdadeiro mundo ou a realidade verdadeira, assim denominado por ser o plano das essências, isto é, aquilo que, em todo e qualquer fenômeno constitui sua pura forma ou conceito. Assim, por exemplo, a humanidade constitui a essência de cada ser humano particular, ou a triangularidade determina a natureza de toda e qualquer figura triangular que vemos ou traçamos. Todos os indivíduos humanos concretos são limitados e finitos, mas a humanidade é uma entidade intelectual, que em nada se altera em virtude da sucessão dos indivíduos singulares.

Tais formas puras, denominadas tecnicamente idéias por Platão, teriam sua origem na idéia do Bem – ou de Deus – que é a causa produtora de todas as outras idéias que são formas gerais do universo. Tais entidades são inacessíveis a nossos órgãos dos sentidos; e imutáveis, uma vez que não estão submetidas às leis do espaço e do tempo. Por serem as responsáveis pela realidade de todo real, foram tradicionalmente denominadas realidade inteligível, em contraposição a uma segunda ordem de realidade, a realidade aparente ou sensível, que é aquela de que temos experiência ordinária.

Contraposto às essências inteligíveis, o mundo sensível é tradicionalmente considerado um plano de realidade deficitária, enganosa, mera aparência ou simulacro das formas puras, que são como originais ou modelos dos quais toda realidade empírica, sensível, constitui uma cópia, necessariamente imperfeita e corruptível. É a essa realidade degradada, sujeita às condições do espaço e do tempo, que pertence nossa existência terrena e corporal.

Nossa alma ou espírito, nossa verdadeira essência e princípio inteligível, estaria como se prisioneira de nosso corpo, sendo por isso o erro e ao engano pelos sentidos, que nos arrastam para o plano das aparências, desviando-nos do que seria nossa verdadeira destinação: a contemplação das formas puras. Em virtude de nossa alma racional, imortal, somos aparentados com as puras idéias e participantes do mundo inteligível.

Todo conhecimento verdadeiro seria, pois, uma espécie de recordação do que outrora, antes do cativeiro de nossa alma pelo corpo e no mundo terrestre, contempláramos do verdadeiro e divino mundo das idéias. Um espírito, ou razão pura, e um bem em si (um bem ou valor cuja vigência é universal e necessária) constituem as referências metafísicas que dão sustentação tanto ao conhecimento científico quanto ás ações morais do ser humano no mundo.

Em outras palavras, a alma tem o conhecimento universal. Os órgãos dos sentidos não têm acesso a ela, “induzindo ao erro e ao engano, que nos arrastam ao plano das aparências”. Como “todo conhecimento seria uma espécie de recordação de antes do cativeiro”, educar é conseguir uma via de acesso a este universo aprisionado.

Daí a maiêutica, a arte da parteira.
Em Teeteto, de Platão, perguntam a Sócrates:

􏰀Afinal, qual a sua profissão?
􏰀 A mesma da minha mãe, responde ele. 􏰀Mas sua mãe é parteira.

􏰀Eu também! Eu sou parteiro de idéias. Tenho isso em comum com as parteiras: sou estéril de sabedoria; e aquilo que há anos muitos censuraram em mim, que interrogo os outros mas nunca respondo por mim, porque não tenho pensamentos sábios a expor, é censura justa. (Teeteto, 15c).

Sócrates passeava com os alunos na hora do ócio (de onde deriva a palavra Escola), sempre inquirindo, jamais ensinando o que julgava não saber.

Esta postura é fundamental em clínica. Não sou meu paciente, não sei o que ele sente. Isto é uma desvantagem. De outro lado, não sendo o outro, posso observá-lo e ver como ele age. Isto é uma vantagem, se eu, maieuticamente, ajudá-lo a acessar o que sente.

Esta postura é fundamental na empresa. Quem a conhece são seus membros, que a constituem, não o consultor. No meu trabalho, a postura maiêutica começa quando eu pergunto o que é coisificante e o que é dignificante na empresa, continua quando pergunto de que forma se manifestam a agressividade, a afetividade e o medo no papel profissional e se completa quando pergunto qual a pequena mudança que vão introduzir no seu papel profissional (qual a labirintite) e qual a mudança que esperam da empresa (qual o terremoto).

Esta postura maiêutica é fundamental nos líderes, na medida em que ela é o fundamento da primeira das três fases do processo de tomada de decisão.

Dossiê Medo

Material publicado na Revista Coaching Brasil, 2018 fevereiro Ed. 57 http://revistacoachingbrasil.com.br/#edicao57

Apresentação do Dossiê: Medo

Coordenação de Carlla Zanna, PCC – Professional Certified Coach, Diretora de Educação e Desenvolvimento Humano na Transformação Consultoria e Diretora de Responsabilidade Social na ICF Brasil Chapter.

“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.” (William Shakespeare)

Quando recebi o desafio de coordenar esse dossiê, fiquei um tanto assustada. Medo é um tema complexo, amplo e que pode ser explorado de diversas formas. Então, fiquei imaginando o que poderia agregar valor aos leitores. Após considerar algumas possibilidades, escolhi abordar as contribuições da neurociência do comportamento e, para isso, convidei quatro colegas coaches a trazerem suas contribuições.

O que você irá ler a seguir é fruto de insights analíticos baseados em nossos estudos e experiências, assim pretendemos apenas oferecer a possibilidade de novas reflexões, sem querer esgotar o leque de questões que podem ser desferidas sobre o tema.

Boa leitura, divirta-se!

Carlla Zanna, Coach

  

 

DEFINIÇÃO E FISIOLOGIA por Carlla Zanna

O cérebro controla todos os aspectos da nossa vida. Ele revela, provavelmente, muito mais do que o código genético que trazemos ao nascer; ele diz o que cada um de nós realmente é, mostrando o que temos em comum e nossas diferenças. Não existe, no mundo, um cérebro igual a outro, e a forma como os circuitos neurais se organizam em cada um, explica o que fazemos, como fazemos, como nos lembramos das coisas, o que sentimos, nossos amores e medos.

Esse dossiê se propõe a explorar o medo e seus desdobramentos na vida das pessoas. Para isso, consideramos importante trazer uma definição clara que baseia nossa abordagem e informações sobre sua fisiologia.

Entendemos que o medo é um estado emocional que surge em resposta a uma situação de ameaça, onde acreditamos que nossa segurança ou a vida estejam em risco. Frequentemente, ele se caracteriza como um impulso negativo, que pode impedir algumas ações, mas é essa mesma emoção, o medo, responsável por nos ensinar a respeitar nossos limites. Ele serve como uma espécie de alerta e é de extrema importância para a sobrevivência das espécies, principalmente para nós, humanos.

Para que o medo apareça, é necessária a presença de um estímulo que provoque ansiedade e insegurança no indivíduo; e os humanos são capazes de desencadear medo a partir apenas da ideia de que algo seja desagradável ou ameaçador, ou seja, o medo pode ser provocado por razões sem fundamento ou lógica racional, basta que tenhamos uma crença que sustente uma determinada ideia de ameaça.

Através dos estudos da neurociência, acredita- se que a fisiologia do medo esteja associada à porção mais antiga do cérebro, chamada Tronco Cerebral. Estudos realizados por pesquisadores do Laboratório de Psicobiologia da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto comprovam que o medo, em seu estado mais primitivo, é um sentimento que está apoiado nos circuitos neurais equivalente aos dos primeiros répteis da Terra, acionando o chamado cérebro reptiliano, aquele que nos faz agir de forma impulsiva. É essa porção que nos assemelha a outros mamíferos e répteis e é também a parte que nos mantém vivos, pois integra funções vitais como o ritmo cardíaco, a digestão, a respiração e a pressão arterial.

O sistema límbico, responsável pelo controle das atividades emocionais, possui estruturas muito especiais, chamadas amígdalas cerebrais (localizadas dentro da região anteroinferior do lobo temporal em cada hemisfério do cérebro), responsáveis pela gênese do medo. O córtex pré- frontal, área cognitiva e emocional do cérebro, é responsável pela avaliação de potenciais perigos, cuidando assim da nossa autopreservação.

Quando somos confrontados com situações de ameaça, um processo involuntário é desencadeado, o hipotálamo secreta a proteína corticotropina, que estimula a hipófese e esta, por sua vez, produz o hormônio adrenocorticotrópico, que leva a glândula supra-renal a liberar cortisol, preparando nosso corpo para nos defendermos ou fugirmos.

Isso se traduz, no nosso organismo, através de características físicas muito típicas, mediadas pela divisão simpática do sistema nervoso autônomo, o que, na prática, significa aumento dos batimentos cardíacos, aceleração da respiração e contração muscular, que pretendem garantir nossa proteção e sobrevivência.

Outra substância química liberada pelo organismo, quando enfrentamos situação de estresse, é a serotonina, neurotransmissor que transmite impulsos entre os neurônios. Ela possui papel importante na aprendizagem, humor, sono e vasoconstrição (contração dos vasos sanguíneos) – todos aspectos fundamentais para o crescimento e desenvolvimento das pessoas.

A neurociência vem nos ajudando a estabelecer, com cada vez mais clareza, as bases orgânicas do comportamento, e hoje sabemos que o “medo social” (rejeição, incompetência, falta de importância, etc.) é um impulso primário que desencadeia as mesmas reações fisiológicas dos medos concretos (aqueles que logicamente colocam nossa sobrevivência em cheque). Isso significa que o medo ‘socioemocional’ é deflagrado nas mesmas regiões do cérebro que processam o medo concreto, disparando as mesmas reações físicas.

Como diz David Rock, co-fundador e CEO do NeuroLeadership Institute, o cérebro humano é um órgão social, por isso, nossas reações, limitações e sofrimentos decorrentes de ameaças socioemocionais também impactam nossa “sobrevivência”.

 

O SER HUMANO TEM MEDO, PROVOQUE A CONFIANÇA! por Katia Gaspar

Sabemos que o cérebro é o órgão mais importante do sistema nervoso, uma verdadeira máquina de conexões que envia milhares de informações e elabora sinapses durante o tempo todo, mesmo sem percebermos. Também pode ser um grande sabotador da nos- sa confiança se não soubermos como ele funciona.

Sob a ótica da neurociência, é possível dizer que o cérebro percebe duas vezes mais forte as situações como ameaça do que como recompensa. Por isso, quando nosso cérebro capta informações e as identifica como ameaça, nosso corpo tem uma reação aguda. O sistema nervoso assume o comando e desencadeia a reação de lutar, paralisar ou fugir (como já vimos anteriormente), resultando em impotência e ansiedade, que acabam debilitando as funções executivas, cruciais para enfrentar desafios, otimizando as funções do sistema límbico.

Como ser mais confiante e eliminar o medo?

Um estudo feito pela americana Amy Cuddy, psicóloga social e pesquisadora da Harvard Business School, diz que se mantivermos nossa mente no momento presente, podemos mudar, positivamente, a forma como lidamos com nossas reações, facilitando, consequentemente, a forma como lidamos com situações desafiadoras.

É muito fácil e rápido desviarmos nossa atenção do momento presente. Qualquer distração, interna ou externa, pode fazer com que nos desviemos, rapidamente, do que realmente importa. Você já percebeu que, dificilmente, nossa mente está no momento presente?

Vivemos em três dimensões temporais: presente, passado e futuro, e é muito comum nossa mente se distrair com as memórias do passado ou projeções futuras. Normalmente, nos preocupamos com o que os outros pensam sobre nós, ao invés de darmos a devida atenção ao que, de fato, é importante para nós.

Em função dessas ameaças socioemocionais sentimos MEDO e nossas reações de fuga ou luta nos afastam do momento presente; fugir nos impede de manter envolvimento com o que é necessário e lutar nos tira do momento presente porque pode não refletir a realidade.

Portanto, manter nossa mente atenta ao momento presente exige muito treino e disciplina. Se quisermos ser mais autoconfiantes e sentir menos medo, essa é uma habilidade extremamente necessária.
Quando nos sentimos presentes, atentos ao que estamos fazendo, tudo se alinha automaticamente, pois pensamos, sentimos e agimos de forma integrada e, consequentemente, temos mais confiança em nós mesmos e transmitimos essa confiança para as pessoas ao nosso redor. Para que isso aconteça, precisamos deixar o mundo em silêncio para ouvir a nós mesmos, precisamos pensar.

Temos o costume de refletir pouco sobre nós mesmos e fazer muitas coisas, às vezes, ao mesmo tempo. Precisamos ter em mente que somos seres humanos e não máquinas ou robôs. Frequentemente, agir de maneira automática, ou seja, o ato de fazer sem pensar, não nos permite trazer à consciência nosso valor como indivíduo. Desta maneira, a construção da autoestima se torna frágil e ela é um fator importante para identificar nossa própria capacidade para enfrentar as situações da vida.

Uma pessoa com boa autoestima não necessita da validação externa para prosperar nem desmorona ao primeiro sinal de ameaça. Ao invés de se preocupar com a validação externa, ela se conecta com o momento presente, com as ações que devem ser realizadas e tem tempo para refletir sobre o seu próprio comportamento perante as situações. Ter consciência sobre si mesmo traz a percepção sobre os comportamentos que devem ser reconhecidos como positivos e os que devem e precisam ser desenvolvidos.

Transformar nosso comportamento depende das recordações que tivemos sobre nossas experiências!

Nosso cérebro gosta de automatizar todos os comportamentos que trazem alguma forma de recompensa, afetando os comportamentos que poderemos escolher repetir, inconscientemente. Quando, de fato, não conhecemos a nós mesmos, podemos escolher, de forma inconsciente, por exemplo, desviar de situações que nos pareçam ameaçadoras, pois a falta de autoconhecimento leva nosso olhar para as situações e não para nós mesmos.

A autoconfiança consiste em ter consciência sobre a própria maneira de pensar, sobre valores e determina quais ações serão necessárias para seguirmos adiante. Se nossas ações não forem coerentes com nossa personalidade, não somos fiéis a nós mesmos, afinal, a fonte da autoestima elevada é nosso interior.

Há alguns anos eu não entendia o porquê de uma pessoa não se arriscar. Hoje entendo e percebo que existem várias razões. Uma delas é não saber reconhecer a si mesmo. Alguns são críticos demais; outros acreditam que falar sobre si mesmo de uma forma positiva pode parecer arrogância. Porém, quando não nos reconhecemos como agentes da nossa própria história, nos tornamos impotentes. E, quando nos tornamos impotentes, somos ameaçados pelas situações externas. Por isso, construir a própria história é a melhor maneira de conhecermos a nós mesmos, entendendo os fatos e as habilidades que nos fizeram ser quem realmente somos. Nossas escolhas conscientes são as responsáveis por alcançarmos ou não o que queremos.

Devemos deixar de lado frases como: “Foi sorte o que consegui” ou “Dei azar”. Em primeiro lugar, precisamos convencer a nós mesmos sobre o que nos capacita a lidar com situações desafiadoras. Muitas vezes, não aprendemos a reconhecer o que, de fato, fizemos como positivo para estarmos onde estamos. A pessoa que realmente acredita no valor e na integridade de sua história, e em sua capacidade de concretizá-la, automaticamente transmite confiança. A fala, as expressões faciais e as posturas são congruentes.

Dessa maneira, ela não transmite arrogância, transmite, sim, confiança, porque expressa o que realmente pensa. Age de modo confiante, sem acreditar que a aprovação ou rejeição dos outros é mais importante que as próprias. Faz, simplesmente pelo desejo de expressar sua maneira de pensar e agir, mantendo-se flexível para mudar quando fizer sentido para ela.

É importante ressaltar que nosso cérebro busca recompensas físicas e sociais e a autonomia é uma das necessidades sociais que buscamos como recompensa. Quando temos autonomia, nos sentimos livres de ameaças e em segurança. Sentimos ter o controle sobre as situações e isso é muito bom! Aumentamos nossa capacidade de sintonizar com oportunidades, otimizando nosso entusiasmo e confiança, indicadores essenciais de sucesso.

Estudos feitos com empresários indicam que essa qualidade demonstra garra, disposição para trabalhar duro, iniciativa, persistência face aos obstáculos, criatividade, capacidade de identificar boas oportunidades e ideias inovadoras. A autonomia nos torna livre de ameaças e em segurança.

Pode parecer um exagero, mas não é! De acordo com os neurocientistas, quando nos sentimos poderosos, nos sentimos maiores. Empinamos o queixo e recuamos os ombros. Estufamos o peito. Separamos os pés e em momentos de vitória, automaticamente, erguemos os braços e alteramos nosso comportamento não verbal.

Nossos pensamentos mudam nossas posturas e nossas posturas alteram nossos pensamentos.

De acordo com as pesquisas feitas por Amy Cuddy, adotar posturas de confiança fazem a testosterona aumentar e o cortisol diminuir. A testosterona e o cortisol flutuam em reações às mudanças de poder e status do indivíduo. Esse perfil está associado à alta assertividade e baixa ansiedade, para facilitar o senso de presença em momentos desafiadores.

 

Talvez, a descoberta mais importante deste estudo mostre que adotar posturas expansivas e abertas faz com que nos sintamos melhor e mais eficientes de várias maneiras. Além das posturas, as práticas meditativas são eficientes para o desenvolvimento da consciência emocional. Reconhecer que tipo de emoção está presente e como ela se manifesta no corpo e na respiração, ajuda a pessoa a retomar o controle de si.

Tão importante quanto ser autoconfiante é ter a capacidade de correr novos riscos. Muitas vezes, os riscos provocam medo. Não podemos ganhar mais habilidades se não enfrentarmos novos riscos. É necessário entender que novos desafios virão, mas podem ser apenas oportunidades de desenvolvimento e não ameaças. Gosto muito de uma frase que diz: “Só sabemos o gosto do chá depois de jogar água quente”. Isso significa que, ao enfrentarmos novas situações, liberamos adrenalina, que promove uma queda na testosterona e aumento de cortisol. Somente pessoas com capacidade de correr novos riscos sabem lidar com esses novos desafios e aceitam como uma oportunidade de desenvolvimento. Elas agem de forma natural, entendendo a situação conscientemente, sem deixar que o medo assuma o controle. A confiança tem relação direta com a capacidade de reconhecer habilidades e a disposição para enfrentarmos riscos, geralmente associados às nossas experiências passadas ou projeções futuras.

Mas tome cuidado! O excesso de confiança pode ser perigoso! Seja confiante para enfrentar o que tem capacidade. Tenha prudência para parar quando sentir que não é capaz. Lembre-se que a única pessoa que pode responder se você deve seguir ou parar é a sua consciência e nunca o seu medo.

 

MEDO E APRENDIZAGEM – Mentalidade Fixa e Mentalidade de Crescimento por Carlla Zanna

Como vimos até aqui, o MEDO é uma emoção que pode sim nos ajudar a aprender sobre limites e frustração, mas também pode interferir de forma contumaz no desenvolvimento humano. Nossas competências emocionais interferem diretamente em nossas competências cognitivas, ou seja, quando nossas emoções estão desorganizadas, a capacidade de aprender, de mudar e se desenvolver fica prejudicada e, infelizmente, a emoção que puxa essa fila é o medo.

No texto anterior, a coach Katia Gaspar afirma que a confiança está diretamente relacionada com nossa capacidade de reconhecer habilidades e nossa disposição para correr riscos, ou seja, o medo desencadeia comportamentos defensivos que podem interferir negativamente na disposição para aprender e evoluir.

Pesquisas mostram que crianças de até dois anos de idade que se mostram muito introvertidas e sentem muito medo, poderão, no futuro, desenvolver distúrbios de ansiedade, efeito patológico do medo. Isso, certamente fará com que esses indivíduos prefiram permanecer nas suas zonas de conforto, ao invés de experimentarem coisas novas.

Carol Dweck, psicóloga e professora da Stanford University, estudou durante anos a forma como as pessoas reagem diante de obstáculos, dificuldades e críticas e concluiu que lidamos com as ameaças e adversidades através de duas estruturas de pensamento, uma mais conservadora que ela chamou de mentalidade fixa e outra mais flexível, que recebeu o nome de mentalidade de crescimento. A primeira diz respeito à forma de pensar e agir, mais frequente, nas pessoas que acreditam que o talento é algo que elas possuem ou não. Já a segunda diz respeito à forma de pensar e agir das pessoas que abraçam os desafios, que se empenham para aprender algo novo, acreditando no seu potencial.

Segundo Dweck, quem age a partir da mentalidade fixa aceita seus limites com resignação ou acredita ser absolutamente inteligente e capaz, sem a necessidade de aprender coisas novas. Em geral, essas pessoas possuem baixo accountability (capacidade para assumir responsabilidade pelas consequências das próprias escolhas), mantendo-se, na maior parte do tempo, como vítimas das situações. Para essas pessoas, tomar decisões pode ser bastante difícil, pois elas sempre se defrontam com o paralisador medo de errar. Na direção contrária, aqueles que agem a partir da mentalidade de crescimento são capazes de ousar, pois possuem forte accountability e, na maior parte do tempo agem como protagonistas da própria vida. Frente a decisões, encaram seus medos de frente e ficam gratificadas quando o vencem e percebem que são capazes de fazer a diferença para si mesmas, seja no que diz respeito à motivação ou à produtividade.

Não se engane dizendo a si mesmo ser possuidor de mentalidade de crescimento ou fixa; todos agimos horas de uma forma, horas de outra, o importante é reconhecer o que fazemos com maior naturalidade e frequência frente aos gatilhos do dia-a-dia.

Por exemplo, quando recebemos críticas ou somos comparados com outros, podemos nos sentir inseguros e ameaçados e nossas reações defensivas aparecerão automaticamente. Com o medo acionado, temos muito mais dificuldade para ponderar sobre a situação e refletir sobre nossa conduta, o que irá inibir nosso crescimento e reforçar a mentalidade fixa. Para nos mantermos numa zona favorável ao aprendizado e desenvolvimento contínuo, precisamos de autoconfiança e resiliência, pois esse é o campo fértil da mentalidade de crescimento. Quando agimos assim, somos capazes de suplantar os medos e seguir em frente.

Entendo que a mentalidade fixa enaltece o impossível e a mentalidade de crescimento, por sua vez, engrandece as possibilidades. Para mim, a mentalidade fixa pode funcionar como âncora e nos deixar aprisionados sempre no mesmo lugar. Já a mentalidade de crescimento significa se provocar o tempo todo para não haver acomodação. A zona de conforto é a maior inimiga do desenvolvimento, mas é amiga íntima do medo, pois ela o alimenta.

Uma história real que exemplifica muito bem o que exponho acima é a história de um homem admirável que venceu seus limites e medos, trata-se de Barack H. Obama, ex-presidente dos Estados Unidos.

Certa vez, aos nove anos de idade, o menino negro, nascido no Havaí e com nome mulçumano, olha para sua avó, mulher que o criou, e diz: “Eu vou ser presidente dos Estados Unidos da América”. Então, aquela sábia mulher, ao invés de ressaltar todas as características acima, limitando as possibilidades do seu neto, o olhou de forma carinhosamente firme e simplesmente disse: “You can!”. É importante deixar claro que ela não disse: sente e espere que qualquer dia alguém vai te fazer esse convite; ela apenas disse que se ele realmente quisesse, ele poderia chegar aonde pretendia.

Certa vez, ouvi Mario Sergio Cortella dizer que água parada fede e apodrece e que a única maneira de evitar que isso aconteça é deixar que ela vá além dos limites, é deixar que ela transborde, ou seja, para vencer o medo acredite em si mesmo e vá além dos seus limites!

 

 

FLEXIBILIDADE COGNITIVA: UM CAMINHO PARA LIDAR COM O MEDO por Paulo Erreira

Imagino que você entenda que o medo não é ruim sempre e que ajuda muitas vezes a preservar a sua vida. No entanto, há situações em que o medo é realmente ruim, quando ele se torna disfuncional e o impede de continuar crescendo. Mas o que caracteriza o medo disfuncional e como posso lidar com ele? Acompanhe-me até o final, pois tentarei deixar claro a que me refiro.

O medo é assunto relevante para quem trabalha com Coaching, pois muitas vezes é ele que está sutilmente presente e atrapalhando nossos clientes a alcançarem a plena realização. De fato, o medo pode tomar uma dimensão tão grande, a ponto de travar o desenvolvimento de uma pessoa.

Trataremos do medo que é gerado por fatores inconscientes, nem sempre condizentes com a realidade em termos de sua intensidade. Vou abordar o assunto tomando por base conceitos que estudamos em Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), disciplina que foi estruturada por Aaron Beck, professor emérito da Universidade da Pensilvânia, e farei um paralelo com o neurocoaching, afinal, o intercâmbio da TCC com a neurociência é forte e acontece através do diálogo entre mente e cérebro, organismos integrados e interdependentes.

Apesar de comportamental fazer parte de seu nome, a Terapia Cognitivo Comportamental  atua nos sintomas psicopatológicos através da intervenção sobre as cognições (pensamentos) da pessoa. Falando de maneira simples, desde que nascemos, vamos construindo esquemas, que são entendidos aqui segundo a visão de Jean Piaget, que sistematizou suas pesquisas relativas ao estudo da gênese psicológica do pensamento humano. Tratam-se de superestruturas mentais hipotéticas, que organizam as informações desde o momento que nascemos. Esses esquemas geram crenças. Esquemas e crenças, em uma comparação sem sofisticação, são como as “lentes” através das quais enxerga-se a realidade.

São os esquemas e as crenças que geram pensamentos. Esses pensamentos podem ser funcionais ou disfuncionais. Em caso de psicopatologias, os pensamentos disfuncionais são aqueles que dificultam a vida da pessoa, pois geram emoções negativas, que resultam em comportamentos indesejáveis.

Vamos usar um exemplo, como ilustração. Imagine que você está no shopping e encontra um colega. A última vez que conversaram, ele havia se mostrado muito simpático e você, ao vê-lo novamente, tinha certa expectativa positiva quanto à forma como seria tratado. No entanto, seu colega o trata de uma maneira que você considera bastante fria, distante. As interpretações do evento acima serão influenciadas pelos esquemas e crenças de cada pessoa. Se você tem uma crença básica, por exemplo, de não amabilidade, talvez jogue toda a responsabilidade sobre si mesmo e pense: “O que eu fiz para ele, para ser tratado assim? Estou chateado e preciso esclarecer isso”. A emoção que aflora é a tristeza e na próxima vez que você encontrar a pessoa, seu comportamento poderá ser sondar se ela ainda está estranha com você e talvez até retome o assunto, perguntando a ela se está magoada por algo que você tenha feito. Já viveu algo parecido? Outra pessoa, na mesma situação, poderia pensar: “Quem ele pensa que é, para me tratar assim? Que cara antipático, ele que me aguarde!”. A raiva aflora e da próxima vez que essa pessoa encontrar o colega, seu comportamento pode ser agressivo em alguma medida ou de desprezo. Uma terceira pessoa pode pensar: “Ele me pareceu chateado…vai ver que brigou com a esposa.” Essa pessoa esqueceria o caso rapidamente, não teria nenhuma emoção predominante e trataria a outra pessoa normalmente da próxima vez em que a encontrasse.

Agora eu vou contar o que realmente aconteceu. Essa pessoa havia recebido naquele dia a notícia de que um de seus melhores amigos estava com um câncer muito sério e sentia-se bastante abalada quando encontrou seu colega. Não estava conseguindo deixar de pensar no amigo e em seus filhos, ainda pequenos, que sofreriam muito se ele não fosse curado. De fato, nem percebeu que foi frio com seu colega.

Nenhuma das três pessoas acertou, pois ninguém sabe o que se passa dentro do outro. Mas, podemos dizer que foi a última pessoa a que encarou a situação de forma mais impessoal, que teve o pensamento mais funcional, pois não abalou suas emoções sem necessidade. Não estou dizendo que essa pessoa não tem nenhum tipo de psicopatologia, mas isso não vem ao caso, para os objetivos deste texto.

Calma, coach, calma – pode ser que, a essa altura, uma certa indignação já começou a dominar você – talvez você já esteja tendo pensamentos disfuncionais. Ou será que sou eu que estou tentando ler seus pensamentos? De qualquer forma, deixo claro que eu sei que coaching e terapia são coisas completamente diferentes – assim, mantenha-se calmo, ou calma, por que eu vou chegar ao meu ponto muito em breve.

A TCC tem muita similaridade com o coaching e o interessante para nós, coaches, é que algumas ferramentas utilizadas na TCC podem ser aplicadas com sucesso em processos de coaching e eu quero falar particularmente do desenvolvimento da Flexibilidade Cognitiva, como uma forma para tentar lidar com o medo.

Como vimos, por trás de uma emoção, sempre há pelo menos um pensamento que é gerado por nossos esquemas e crenças. Assim, a emoção medo será disfuncional quando é gerada por uma estrutura patológica, que pode ser marcada por um exagero ou por uma falta de consistência com a realidade. Você faz bem em sentir um certo nível de medo ao atravessar uma rua, o que o leva a ser cauteloso. No entanto, se você está deixando de crescer e de dar passos importantes em sua vida, com medo de que coisas ruins aconteçam, você se assemelha à pessoa com pânico, que deixa de sair de casa, por temer ser atropelada por um carro, a qualquer momento. Neste caso, os medos não condizem com o tamanho do risco e tampouco com a realidade – são medos disfuncionais.

Nosso cérebro funciona melhor quando intervimos de forma consciente sobre o mesmo, organizando as ideias, contrapondo pensamentos automáticos negativos e estabilizando emoções. Isto é, quando sentimos alguma emoção negativa, devemos procurar identificar qual o pensamento que está gerando esta emoção e fazer uma intervenção imediata, buscando formas alternativas de pensamento e enxergando a situação por outras perspectivas. Assim, interrompemos um ciclo que pode estar sendo gerado por esquemas e crenças inconscientes e nem sempre suportados pela realidade. Estamos sendo, neste caso, cognitivamente flexíveis, buscando pensamentos alternativos e mais realistas, que geram emoções mais funcionais e, portanto, saudáveis.

Lembro-me do caso de um cliente que havia passado um final de semana angustiante, porque seu superior havia tido um comportamento ameaçador na sexta-feira. Conversamos sobre o caso na segunda cedo, e ficou evidente que era o medo que predominava. Mas medo do quê? A pessoa nem sabia explicar, pois estava confusa, sabia apenas que estava se sentindo mal e sem vontade de ir trabalhar e rever seu superior. Estava sentindo um tipo de medo disfuncional. Foi feita a pergunta sobre o que de pior poderia acontecer e a pessoa teve um insight, notando que o pior mesmo seria a demissão, que nem seria tão ruim, pois a pessoa estava bastante infeliz nesse trabalho. Passo a passo, meu cliente foi organizando seu pensamento e estabilizando suas emoções. Saiu muito mais calmo e preparado para ter uma conversa madura com seu superior, que acabou por lhe pedir desculpas por ter exagerado na dose na sexta passada. Aqui tivemos um final feliz, e nem se trata de um conto de fadas, mas da vida real.

O medo gerado por situações nem sempre ameaçadoras pode ter uma possível causa, a presença de esquemas e crenças de vulnerabilidade, que levam a pessoa a acreditar que o problema é maior do que sua capacidade para lidar com ele. Assim, a primeira estratégia é a esquiva, evitando o enfrentamento.

Em conclusão, devemos tomar nossos pensamentos como hipóteses e não como verdades irrefutáveis e absolutas. Desenvolver a Flexibilidade Cognitiva nos ajuda a lidar com as emoções, porque buscamos alternativas na forma de pensar, enxergando as coisas por outros ângulos, desafiando o primeiro pensamento que vem à mente, no qual tem-se uma tendência a acreditar cegamente.

No caso específico do medo, fazendo isso, haverá grande possibilidade de enxergarmos os problemas de forma mais realista e assim confiarmos mais em nossa capacidade para resolvê-los.

 

COMO O MEDO PODE IMPACTAR O ALCANCE DE OBJETIVOS por Silvia Rodrigues

 

Quando fui convidada para escrever este artigo, muitas dúvidas vieram à minha mente. Conforme comecei a escrever, percebi que na verdade eu estava sentindo medo. Ao me dar conta dessa sensação, logo entendi que ficar com medo não ajudaria no alcance do meu objetivo. Respirei fundo, fiz um exercício de foco, meditei, desenhei uma estrutura que me parecia lógica e amigável e, com a emoção regulada, segui em frente.

Achei que seria útil falar sobre os tipos de medo e como eles podem impactar no alcance dos objetivos e também compartilhar algumas dicas que tenho aprendido ao longo da vida.

Nem sempre o medo é um vilão!

Só de ouvirmos a palavra MEDO, é provável que sintamos algo diferente, no mínimo ficamos mais alertas. Entretanto, o medo nem sempre é um vilão, muito pelo contrário, ele é uma condição natural para todos os seres vivos e tem como principal função a sobrevivência.

Quando temos a sensação de algo ameaçador, seja ele real ou imaginário, como a coach Carlla Zanna já escreveu, agimos de forma instintiva, seja para fugir, lutar ou mimetizar (ficamos paralisados). É por isso que, numa situação de grande ameaça como por exemplo um assalto, algumas pessoas correm, outras lutam com o assaltante e outras simplesmente congelam. Em todos os casos, as pessoas só se dão conta do que fizeram depois que a ameaça termina, porque durante a situação, boa parte do nosso “combustível” necessário para pensar, está mobilizado “alimentando” o processo emocional de preservação, desencadeado pela ativação da amígdala cerebral. Só quando nos acalmamos, o sangue volta a circular normalmente e voltamos a pensar e agir de forma racional e consciente.

Os medos emocionais despertam insegurança, e geralmente estão relacionados a um sentimento de incapacidade, inferioridade e não merecimento. Esse tipo de medo é capaz de nos paralisar e, consequentemente, impactar o alcance de objetivos. Nos seres humanos, a forma de enfrentar o medo é uma junção de recursos instintivos e de aprendizados adquiridos ao longo da vida. Nesse sentido, quando vivenciamos uma sensação de ameaça, primeiramente é ativado o nosso instinto de preservação, e só depois um processo mental aprendido com as experiências nos leva a agir de uma forma não instintiva. É nessa segunda parte que daremos mais foco neste texto.

Medo X Alcance dos objetivos

Se por um lado o medo é um processo metabólico que mobiliza recursos importantes para cuidar da nossa sobrevivência, por outro, torna-se um vilão quando prejudica o funcionamento do cérebro consciente que, se alimentando dos recursos necessários, é capaz de distinguir inclusive se uma ameaça é real ou imaginária e, nos dois casos, pensar em formas de lidar com ela.

É no córtex pré-frontal que são processados os pensamentos mais complexos relacionados à decisão, compreensão, recordação, inibição e memorização. Embora seja espetacular, o córtex pré-frontal tem limitações: é pequeno, tem cerca de 2% do volume do cérebro, mas usa em média 20% de todo o recurso para funcionar. Em resumo, quando falamos sobre vencer o medo e alcançar objetivos levando em consideração o funcionamento do cérebro, precisamos pensar em formas de canalizar os recursos necessários para o funcionamento do Córtex Pré-frontal. Veja algumas sugestões de como lidar com situações de medo.

  1. Para superar o medo, cuide dos seus pensamentos. O cérebro é serial e trabalha por foco, ou seja, os pensamentos dão o comando para o que deve procurar. Lembre-se, por exemplo, de quando você decidiu trocar de carro. Após ter escolhido cor, modelo e outros detalhes, o que aconteceu? Você passou a ver esse carro nos mais diversos lugares. De um momento para o outro, a sensação era de que esse modelo havia se multiplicado, não é? Mas na verdade, esses carros sempre estiveram lá. A diferença foi o comando que você deu para o seu cérebro. O problema é que isso também vale para pensamentos e imagens mentais negativas. Se você disser “não quero sentir medo”, estará pensando sobre o medo e este será o foco do seu cérebro. Neste caso, troque pelo o que você deseja, por exemplo: coragem.

2. Não se renda à tirania do Agora. Olhar para o agora e querer o resultado imediato pode ser um gatilho para o medo. Carol Dweck, em seu livro “Mindset”, fala sobre o poder do ainda e a tirania do agora. Um medo bastante comum é o medo de se arriscar, de fazer algo que ainda não sabe fazer bem, de não se sair bem e pensar que existem pessoas que fazem isso muito melhor. Neste caso, ainda na linha de cuidar do pensamento, ao invés de pensar “eu não sei fazer isso”, o ideal seria pensar “eu AINDA não sei fazer isso”. Essa simples mudança de pensamento, ajuda muito no processo desse novo aprendizado, bem como não se comparar com outros, e sim olhar para o seu processo. O quanto você sabia sobre isso há seis meses atrás, o quanto sabe agora e quanto saberá daqui a seis meses? Pense sobre isso.

 

3. Procure se conhecer melhor. Embora esse item pareça óbvio, é comum as pessoas não terem consciência de suas fortalezas e de seus pontos de desenvolvimento. Quanto mais nos conhecemos, mais temos condições de potencializar nossas forças e utilizá-las para desenvolver os pontos que ainda não estão satisfatórios. Neste caso, podem ser úteis ferramentas de autoconhecimento e inteligência emocional, coaching, psicoterapia, leituras, meditação, entre outras.

4. Entenda os gatilhos por trás do medo. Para poder lidar com o medo, antes de mais nada é preciso conhecê-lo. Convido você para fazer um exercício. Quando sentir medo, reflita sobre o que disparou esse medo. Reflita sem julgar a si mesmo e descubra o que realmente está por trás dele. Assim que tiver essa consciência, pense em alternativas para colocar em prática em uma próxima oportunidade. Uma outra reflexão que costuma gerar bons resultados é pensar a respeito das vantagens geradas por esse medo. Sei que pode soar estranho, mas sugiro que experimente e tire suas próprias conclusões.

5. Cuide bem de você e do seu cérebro. Pesquisas mostram que quanto mais mentalmente saudáveis estivermos, mais temos condições de lidar com nossas emoções e problemas, inclusive o medo. David Rock , fundador do Instituto NeuroLeadership, e Daniel J. Siegel são os responsáveis pela “dieta”  que, na verdade, não traz informações sobre alimentação, mas sobre comportamentos diários para que o cérebro seja mais saudável e, dessa forma, potencializar o funcionamento do córtex pré-frontal. Nessa “dieta”, eles elencaram sete atividades essenciais para uma saúde mental. São elas: Sono – Se não dormirmos o suficiente, é como se estivéssemos trabalhando bêbados. Por outro lado, uma boa noite de sono melhora a memória, o pensamento criativo, o aprendizado e temos mais condições de regular as emoções. Atividade Física – O exercício físico melhora o fluxo sanguíneo do cérebro e facilita o processo de aprendizado. Tempo para Focar –  Como vimos, o córtex pré frontal se distrai facilmente. Sendo assim, focar torna-se mandatório. Procure fazer uma coisa por vez, dividir o problema e cuidar por partes. Quando for fazer algo importante, prepare o ambiente e previna-se ao máximo de distrações. Tempo de Conexão – Conexões sociais são uma necessidade humana básica. Quanto você tem investido nas suas relações? O tempo de conexão não traz apenas benefícios para a saúde física e mental, ajuda também a desenvolver a inteligência social. Diversão ou Tempo Lúdico – De quais brincadeiras você gostava quando era criança? Quanto tempo você tem dedicado para se divertir de forma espontânea e criativa? A alegria estimula a recompensa e causa a liberação de dopamina, que é altamente benéfica para o cérebro. Tempo de Relaxamento – Logo depois de ter um tempo longo de foco, a recomendação é desconectar, não ter planos, estar aberto para o que surgir. Para algumas pessoas pode parecer desafiador, mas você pode tomar uma decisão deliberada de permanecer um tempo sem foco (exemplos: ouvir música, tomar um banho, ler algo leve, etc.). Mindfulness/Atenção Plena – Jon Kabat-Zin fundador e diretor executivo do Center Mindfulness, descreve Mindfulness como prestar atenção de um modo particular no propósito, no momento presente e sem julgamentos. Estudos mostram que quando praticada regularmente, ajuda as pessoas a regularem suas emoções.

Resumindo, para que o medo seja seu aliado, é preciso um olhar integral e para dentro.

 

 

QUANDO O MEDO TE IMPEDE DE SER VOCÊ MESMO por Rogeryo Leite

Os dilemas que as pessoas trazem para um processo de coaching possuem muitas camadas. Partindo da “ponta do iceberg”, o coaching vai revelando algumas dessas camadas para que o coachee possa compreender as estruturas subjacentes que sustentam seus comportamentos e reações diante do dilema que está sendo enfrentado e que obviamente não estão ajudando a solucionar o problema. Logo, cabe ao coach calibrar o foco e o nível de profundidade desse mergulho, para manter a assertividade do processo e não desperdiçar a energia e o tempo do coachee trazendo questões que não estejam a serviço de gerar insights focados na transformação pessoal buscada por ele.

 

É sabido que nessas camadas vamos encontrar crenças e modelos mentais que precisam ser reavaliados pela pessoa se ela quiser escrever uma nova história para sua vida. Todavia, é muito comum que surjam questões que até o próprio coach não elaborou em si mesmo ainda. Essas são questões que todos temos e por isso, quando decidimos trabalhar com o desenvolvimento de outras pessoas, precisamos buscar constantemente curar nossas dores internas, pois isso aumenta nosso repertório e nos torna aptos para lidar com situações e temas cada vez mais variados. Todo processo de transformação pessoal é uma “via de mão dupla”, em que ambos, cliente e coach, são beneficiados com aprendizados sobre a vida e sobre si mesmos.

Em qualquer dilema, sempre reside a necessidade da pessoa ter coragem de reconhecer sua essência e de se autorizar “simplesmente ser”. Somente depois da pessoa honrar quem ela realmente é, ela estará pronta para definir com clareza quem ela quer se tornar e qual o caminho necessário para chegar lá.

A transformação está, em algum nível, na autorização que a pessoa se dá para ser ela mesma, ao passo em que ela se liberta da pressão social de ter que se enquadrar em determinados padrões. Quando falamos de autorização, lembramos que de acordo com a etimologia da palavra, quando eu me autorizo, eu me torno autor, ou seja, eu me torno responsável pela criação da minha própria história.

Então, como ajudamos as pessoas a construírem um mindset positivo sobre si mesmas e a terem coragem de assumir a responsabilidade sobre suas escolhas?

Um bom caminho é trabalhar o desenvolvimento da Inteligência Emocional dessas pessoas, ajudando-as a se libertarem dos medos e de possíveis máscaras sociais que elas tenham criado, que só as afastam de sua própria essência.

Daniel Goleman, autor de diversas obras sobre esse tema, define Inteligência Emocional como “a capacidade de identificarmos nossos próprios sentimentos e os dos outros, de motivar a nós mesmos e de gerenciar bem as emoções dentro de nós e em nossos relacionamentos”. Ele aponta a autopercepção (saber o que estamos sentindo no momento) e a autorregulação (gerenciar as próprias emoções de modo a conseguir adiar recompensas imediatas e agir de modo consciencioso) como os primeiros passos para o desenvolvimento da Inteligência Emocional. Isso porque a mente emocional é muito mais rápida que a mente racional e tende a agir com mais impulsividade e convicção imediata. Essa rapidez tira de cena a reflexão deliberada e analítica que é característica da mente racional. Por isso, as iniciativas sob domínio da mente emocional, não raramente geram arrependimento.

Do ponto de vista da neurociência, a regulação dos processos emocionais está fundamentalmente no sistema límbico. Esse sistema localizado no cérebro está também associado ao sistema nervoso autônomo e ao processamento das memórias de longo prazo: explícita (declarativa: episódica ou semântica) ou implícita (emocional, condicionamentos, hábitos). Ele dispara as reações emocionais e físicas imediatas (taquicardia e respiração curta, por exemplo) quando entende que a situação traz ameaças ou dispara reações de aproximação quando identifica uma situação em que há recompensa. Já a mente racional está mais associada principalmente ao córtex pré-frontal, região atrás da testa responsável pelos processamentos mais complexos, como análise da situação na linha do tempo e espaço, memória de trabalho (curto prazo) e tomadas de decisão.

Quando a mente emocional está sendo movida pelo medo, todo o sistema nervoso entra em estado de ameaça e nossas habilidades de análise e raciocínio ficam abaladas. Quando a pessoa aprende a identificar suas emoções e a regular suas reações, certamente ela está exercitando o funcionamento equilibrado entre a mente racional e a mente emocional. Desse modo, ela fará escolhas melhores mesmo em momentos de crise e os bons resultados desse processo trarão mais autoestima, afastando a sensação de inadequação que tanto força as pessoas a “não serem elas mesmas”.

O interessante é que Quociente Emocional pode ser desenvolvido desde a tenra idade. Uma ótima demonstração disso é o “experimento do marshmallow”. É possível que você já tenha assistido a um dos divertidos vídeos que circulam na Internet, mostrando a reação de algumas crianças frente a um desafio. Esse experimento mostra algumas crianças que são deixadas sozinhas em uma sala diante de um marshmallow após terem recebido, de um adulto, a seguinte consigna: “se você não comer o doce até eu voltar, você ganhará o direito de comer dois doces, mas se quiser comê-lo agora, você pode, mas comerá apenas este”. O divertido nos vídeos é ver as mais variadas reações de cada criança diante da “tortura” de não comer imediatamente o doce que elas adoram, adiando assim a felicidade instantânea, visando a recompensa futura. Nem todas conseguem, algumas tentam se auto ludibriar, enfim fazem manobras mirabolantes para conseguir ter as duas coisas ao mesmo tempo.

Atrás desta brincadeira com as crianças, há um estudo científico da maior relevância, que teve início na década de 1960 na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Esse estudo visava trazer mais compreensão sobre o sistema de recompensas do cérebro. Foi um estudo longitudinal, porque essas crianças foram acompanhadas pelos cientistas por muitos anos e já na adolescência elas demonstravam características distintas. Aquelas que resistiram à tentação de comer o doce, satisfazendo sua necessidade de prazer imediato, tornaram-se adolescentes bem mais capacitados para lidar com as frustrações da vida. Isso lhes deu habilidades de lidar com as pessoas e encarar os desafios da vida com muito mais vigor, independência e autoconfiança. Eles tinham mais desenvoltura na vida social, lidavam melhor com seus medos e, pasmem, tiveram melhor desempenho acadêmico.

Cerca de um terço das crianças ativou o sistema de recompensa imediato e comeu o marshmallow antes do adulto voltar, abrindo mão de uma recompensa futura. Na adolescência, elas apresentaram um perfil mais tímido, retraídas no convívio social, indecisas, teimosas, sem traquejo para lidar com as frustrações e com tendência de ficarem paralisadas diante de uma situação tensa e desafiadora. Além disso, impressionantemente, elas revelaram um mindset muito negativo sobre si mesmas por julgarem-se inadequadas e indignas. Isso gerava uma mistura de emoções como ciúme, inveja, medo, que resultaram em pessoas mais reativas, briguentas e mal humoradas. E para completar, isso tudo afetou negativamente seu desempenho acadêmico e a qualidade de suas relações familiares e sociais.

Goleman diz que “o que aparece discretamente no início da vida desabrocha numa ampla gama de aptidões sociais e emocionais com o desenrolar dela”. Então, quanto mais cedo enfrentarmos nossos medos e aprendermos a estabelecer nossas prioridades, analisando as situações com equilíbrio entre razão e emoção, maiores serão nossas chances de termos sucesso na vida. A boa notícia é que nunca é tarde para abandonarmos velhos padrões, desenvolvermos nossa Inteligência Emocional e nos posicionarmos com mais desenvoltura diante dos desafios da vida.

MUNDO CORPORATIVO – GESTÃO DE PESSOAS O MODELO DE DESENVOLVIMENTO 70/20/10

Em meados dos anos 1990, as pesquisas realizadas por Morgan McCall, Robert W. Eichinger e Michael M. Lombardo, do Center for Creative Leadership na Carolina do Norte, EUA, apontaram para algo central no processo de desenvolvimento humano, a motivação para mudança. 

Eles descobriram que, para que essa motivação se faça presente e impulsione os profissionais a desejarem mudanças reais e sustentáveis, é necessário criar um campo fértil estimulado pela mescla de diferentes abordagens. 

Dessa forma, eles propuseram que a totalidade da aprendizagem organizacional deve ser composta da seguinte forma:

70% deve vir da aprendizagem on-the-jobonde acontecem as interações do cotidiano e as experiências são fruto da realização de tarefas e solução de problemas. Essa forma de aprender compreende conversas informais, compartilhamento e troca sobre técnicas, processos, rotinas, etc., com colegas, superiores, subordinados;

20% deve vir das interações com os outros no ambiente de trabalho e dos feedbacks que surgirem, além de ser fundamental a identificação e observação de profissionais que possam servir como modelos e inspiração;

10% deve vir da aprendizagem formal, ou seja, cursos, treinamentos, seminários, workshops e leituras formais.

Essas três abordagens devem sempre estar integradas para garantir sua eficácia, pois isoladamente cada uma delas não tem o mesmo efeito que tem quando estão integradas. A ideia é que as pessoas possam levar para seu cotidiano o que aprenderam de maneira formal e provocar conversas onde o aprendizado possa ser ampliado e sustentado. 

A fusão das três abordagens reflete um fenômeno complexo, pois em um único processo incluímos o que é linear, sistêmico, informal e ainda acrescentemos uma dose de incerteza proveniente das experiências individuais. Isso significa que o real aprendizado deve considerar diferentes variáveis e algumas não previstas. Esse modelo de desenvolvimento não se propõe a ser imutável, ao contrário, é um conjunto de referenciais oriundos de pesquisas empíricas, onde seu valor maior está em mostrar que a aprendizagem é predominantemente não linear, aproximando-se da complexidade do mundo real. Assim, o conceito 70/20/10 proporciona um framework que permite pensar fora do formalismo dos currículos que formam a base das aulas, cursos, seminários, workshops e assemelhados. Com isso a aprendizagem se estende para além dos ambientes “oficiais” dos cursos e passa a abranger e integrar três contextos: o formal, o social e o ambiente de trabalho. 

Talvez o mais importante aqui seja a constatação de que a predominância da aprendizagem no local de trabalho cria condições para a sua continuidade, o que mantém a motivação e o sentimento de participação ao criar valor para as organizações. O papel da aprendizagem on-the-job é fundamental, porque ela é imediatamente aplicável às questões, problemas ou objetos que estão no entorno imediato das pessoas. Isso é tão verdadeiro que atualmente as boas praticas de desenvolvimento estimulam que os processos sejam muito mais constantes do que as intervenções pontuais. A capacitação contínua se faz imprescindível para que os colaboradores adquiram expertise em suas posições e apresentem alta performance com uma generosa dose de prazer.

Sendo o ambiente corporativo terreno onde as sementes do desenvolvimento são plantadas, ele deve ser constantemente cuidado para que proporcione e estimule um florescer repleto de oportunidades para trocas de experiências. Sabe-se que um dos principais fatores responsáveis pela permanência de um colaborador, por longo período numa organização, é a identificação de possibilidades de crescimento.

A aplicação adequada do conceito 70/20/10 requer que as praticas de desenvolvimento de pessoas sempre estejam alinhadas com os objetivos e estratégias da empresa. 

Carlla Zanna